Até que eu curtia a Coleção Disquinho. Na verdade, era tudo o que eu conhecia. Já estava me acostumando com a estorinha da Dona Baratinha, quando meu pai saca algo muito mais legal: o LP Sorrisos e Lágrimas. Verdadeiro tesouro escondido de três pirralhos querendo descobrir o mundo, e seis mãozinhas prontas para destruir tudo que se movesse, andasse, arrastasse ou voasse.
Esse disco era uma aula de rock’ n’ roll, havendo apenas sorrisos; lágrimas só quando ocorria algum acidente doméstico. Enquanto, nas festinhas, rolava Balão Mágico e seu inocente e bobo Ursinho Pimpão, eu curtia The Bird’s The Word e Papa-Oom-Mow-Mow (as duas músicas mais divertidas da história), com Rivingtons; Long Tall Sally, com Little Richard; e The Letter, com The Box Tops. Quem nasce ouvindo isso está imune às 10+ (“jabás” de qualquer época).
O Sorrisos e Lágrimas já era o suficiente, mas tinha muito mais de onde veio esse. Aos poucos, foram surgindo: dois compactos dos Beatles e um LP de Johnny Rivers. Little Richard inventou o rock e os Beatles deram outra direção. A passagem entre as canções infantis e o rock foi prematura e como um salto quântico.
Só que, para quem vive em São Paulo e na Grande SP esse bom gosto musical aproxima tribos inóspitas e toda sorte de fauna urbana. Punks, darks, skin heads, alternativos, head bangers, avulsos e outras coisas.
Como uma lousa velha, qualquer plataforma pode ser mais útil que um computador. A velha vitrola cumpriu sua função. O rudimentar aparelho apresentou ótimas músicas e formou um gosto musical livre de chuvas e trovoadas (ou gugus e faustões).
Paradoxalmente, sou obrigado (pelas circunstâncias) a dizer que não gosto de funk. É difícil dizer isso, sabendo que funk de verdade (não o carioca) é James Brown.
Sertanejo Universitário é muito triste. O nome sugeriria algo como: Ortega & Gasset, Galileu & Galilei ou Costa & Silva cantam Chico Buarque.
Voltando ao rock, quem diz que ele morreu está enganado. Daqui a 300 anos, Rolling Stones será escutado (não ao vivo) como Mozart ou Beethoven. Alguém diz que a música clássica morreu?
O Ministério da Saúde adverte: Spotify e Deezer, se mal usados, podem causar funk e sertanejo universitário.
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