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DOUTOR ADJETIVO
Erivelto Reis

DOUTOR ADJETIVO

Esse você conhece. É o típico “arroz de festa”. Normalmente é um cunhado ou alguém que pensa que é parente. Chega sempre cedo ao evento, mesmo sem saber do que se trata. Raramente traz algum presente. Mas come como um padre, ri alto, conta piada repetida e sem graça e exagera na bebida. Assim, quando já está “pra lá de Bagdá”, resolve dar uma cantada na mulher mais atraente da festa, que sob sua ótica etílica é quase sempre a avó “setentona” do anfitrião. O sujeito deixa todo mundo sem jeito, e quando aparece alguém para fazê-lo “baixar a bola”, ele segura a cabeça da pessoa com as duas mãos e diz a célebre frase: “você é como um irmão pra mim, cara!” Vamos combinar, não há quem suporte uma coisa dessas...
E quando todos começam a se descontrair e o ambiente fica mais leve, normalmente é na hora em que o indivíduo está na cozinha (praticamente amarrado), tomando um café tão forte que poderia deixar metade da população de Campo Grande acordada, então vem alguém anunciar que vão partir o bolo ou que vai começar a valsa ou que o patrão chato e arrogante já foi... Ou qualquer outra coisa que possa ser o ponto alto da festa... Então o sujeito se arma de uma dignidade que não é comum e diz todo empertigado: “não poderei me furtar a este momento solene!”...
Daí, o camarada pega um copo cheio de batida que ele rapidamente trata de esvaziar, um talher (se os talheres do evento forem de plástico, ele usa a chave do seu fusca meia sete). Sobe numa cadeira de armar e, com o que ele imagina serem leves batidas no copo, pede a atenção de todos para que possa pronunciar algumas poucas palavras.

– Quiseram que eu fosse o escolhido nesse momento de júbilo. Mas é exatamente agora em que as palavras me fogem (pensa: “e que a cadeira balança e que estou quase caindo!”), e a emoção me domina nos recônditos mais íntimos do meu ser, que eu, num esforço supremo pra conter as lágrimas e radiante de felicidade...
É o suficiente! Ninguém ouve mais nada! As crianças aplaudem, as senhoras vaiam, e os homens, já escaldados contra os arroubos poético-etílicos do convidado, gritam em coro, uma mistura de “Apoiado! – É isso aí! – Falou pouco, mas falou tudo!”, que invariavelmente impedem o “Doutor Adjetivo” de continuar seu discurso.
No dia seguinte, no almoço de família (esse sim, só para uns poucos convidados), todos comentam o vexame dado pelo “penetra” inconveniente. E apesar de agora todos acharem o ocorrido bem mais engraçado, ninguém encontra clima para comentar que a avó “setentona” e o “Doutor Adjetivo” trocaram telefone, que a bebida estava quente e que a torta salgada estava azeda.


Biografia:
Erivelto Reis nasceu em 1976, em Rio Verde, Goiás. Veio para o Rio de Janeiro, aos três anos, com sua família. Filho de José de Arimatéia e Maria Aparecida da Silva Reis e irmão de Erivaldo, Erialdo e Elton. Erivelto é casado com a professora Gloria Regina e o casal tem três filhos: Allynie, Erick e Ian. Poeta, escritor, cronista, ativista e produtor cultural. Tem dois livros publicados: “Sem Rima” (Poesias - 2004) e “Somos” (Crônicas e Poesias - 2007). Escreveu crônicas para os jornais “O Guarazão”, da região de Guaratiba e “O Amarelinho”, de Campo Grande, ambos na cidade do Rio de Janeiro, o que lhe valeu uma Moção da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro em 2004. É professor formado em Letras (Português – Literaturas) e pós-graduando em Estudos Literários pelas Faculdades Integradas Campo-grandenses. Em 1998, no curso de Teatro Laboratório, no Teatro Arthur Azevedo, conheceu o poeta Primitivo Paes, seu amigo e grande incentivador. A partir de então, passou a dedicar-se efetivamente à carreira como escritor. Juntos, Primitivo e Erivelto, já somam, em onze anos de carreira, mais de mil apresentações em escolas, praças públicas, teatros, centros culturais e eventos em todo o Estado. Como ativista e produtor cultural, coordenou em 2006, o I Encontro de Poetas do Rio de Janeiro, na Lona Cultural de Campo Grande. Ingressou, em 2005, no Instituto Campograndense de Cultura, a convite da então presidente Marly Monte Araújo, e participou da produção da I Jornada de Letras do Instituto Campograndense de Cultura e da confecção da Revista comemorativa dos 40 anos do Instituto em 2007, além de ter participado, como jurado e, posteriormente ao seu ingresso no Instituto, da produção do Projeto “Novos Talentos do ICC”. Em 2008, passou a fazer parte do quadro de membros efetivos do renomado instituto, ocupando a cadeira número 8, que pertencera à professora Leda Lúcia e cujo patrono é Freire Alemão. Em 2007, participou, com um poema, de uma Mostra de Poesia e Artes Plásticas no Centro Cultural Ariano Suassuna, na Barra da Tijuca/RJ. Em 2008, participou como jurado, do concurso nacional de poesias da Revista Day By Night e em 2009, sempre ao lado do poeta Primitivo Paes, da I Mostra de Poesia Brasileira na Cidade de Maricá. Vencedor do Prêmio FEUC de Literatura em 2005 e 2009, seus poemas constam de inúmeras coletâneas e antologias pelo Brasil. Recebeu também o Prêmio Expressão Cultural da Coordenadoria Regional de Cultura da Zona Oeste em 2005 (coordenador de grupo), 2006 (ativista cultural) e 2008 (escritor). Participou da organização e da produção das XVI, XVII e XVIII edições da Semana de Letras da FEUC e dos XI e XII Fórum de Educação, Ciência e Cultura da mesma instituição. Recebeu o troféu comemorativo da I Jornada de Letras do ICC. Em 2005, por indicação do escritor Roberto Sobral, foi agraciado com a Medalha de Honra ao Mérito comemorativa dos 46 anos da Associação dos Taifeiros da Armada da Marinha do Brasil. Participou de diversas edições do Aniversário de Campo Grande, o que fez com que em 2007, recebesse mais uma Moção da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro. Em 2005 foi citado, por suas atividades culturais, pelo Ministério da Cultura no Programa Nacional de Incentivo à Leitura e à Literatura, como um dos fomentadores da leitura e da Literatura no Brasil. Frequenta eventos culturais em toda a cidade. Seus poemas e suas crônicas estão disponíveis para leitura em diversos sites. Contato: eriveltoreis@yahoo.com.br
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