Não devo temer.
Não morri para a vida,
em mim ainda vive o espírito
que mantém meus velhos
e famigerados ossos
em seus lugares.
Foi atingido.
Foi baleado.
Foi atacado
sem misericórdia
alguma.
Flagelado pelas pedras
que jogaram contra ele.
Massacrado pelos pés
que o pisaram
sem dó nem piedade.
Mutilado pelas lanças
que cortaram sua carne.
Mas sobreviveu.
É um sobrevivente de longa data.
Um lutador imbatível
que se ergue como vênus
no cair do pano da vida
que achou ter conquistado para si.
Quiseram enterrá-lo
no mais profundo
abismo da dor.
Quiseram fazê-lo tripudiar
sobre a miséria
de suas incapacidades,
suas pretensões
e sua ignorância de ser.
Mas arrancou seus ossos da terra,
macerou a dor e levantou-se
como espírito de luz.
Luz que chameja em seu coração
e o guiará pelos caminhos
dispostos à sua frente...
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