É fato. Jamais existirão ideologias ou religiões perfeitas. A explicação é simples. Ambas foram e são criadas por seres humanos. Estamos longe de ser perfeitos. Nem temos qualquer parâmetro para a perfeição. A nossa inteligência expôs cruelmente os nossos defeitos à medida que íamos dominando o planeta. Ninguém é um enviado de Deus.
Nos últimos capítulos de “Homo Deus — Uma Breve História do Amanhã”, Yuval Noah Harari que esteve no Brasil recentemente narra como a ideologia socialista sucumbiu ao liberalismo humanista. O grande marco da vitória completou trinta anos no dia nove de novembro. A queda do Muro de Berlim.
Assim como o socialismo, o liberalismo jamais terá a capacidade de entregar o que promete. Pode ser bonito dizer que o meu voto tem o mesmo valor da pessoa mais rica do meu país, mas as igualdades não vão muito além disso. As desigualdades que o liberalismo aceita como normais se transformam em verdadeiras aberrações.
Em 2016, por exemplo, as 62 pessoas mais ricas do planeta valiam tanto quanto os 3,6 bilhões de mais pobres. Metade da população mundial. Harari denomina essa parte da humanidade de “metade de baixo do gênero humano”. Num documentário sobre o Muro de Berlim, um alemão nascido no lado oriental foi enfático ao dizer que nunca houve uma verdadeira reunificação. Aconteceu uma simples anexação.
Harari continua dizendo que no futuro dominado pela Inteligência Artificial, essas aberrações de desigualdades do liberalismo ficarão ainda maiores. A ideia de igualdade deixará de ser o fim da fome, a abundância universal, a saúde para todos. O liberalismo mira em saltos maiores como a felicidade, a imortalidade e a divindade. Nascerão os “divinóides”, e ouviremos falar em dataísmo.
Os humanos não se contentarão mais em apenas criar vacinas, remédios ou curar as doenças conhecidas. As mudanças genéticas serão o princípio para algo ainda maior. A desigualdade atingirá seu ápice quando uns poucos, 62 talvez, se fundirão com as máquinas. O resto dos humanos estarão sujeitos ao descarte.
Só que o liberalismo encontrará um grande inimigo pelo caminho, e dificilmente deixará de sucumbir diante da ideologia dos algoritmos. Nos nossos dias, apesar de se se reproduzirem como pragas, eles ainda se apresentarem de forma disfarçada. Não será mais assim no futuro. Nossos dedos só teclarão os números na urna eletrônica. Quem decidirá em quem votaremos será o algoritmo. Já está acontecendo.
E se as ideologias tais como conhecemos hoje sucumbirão, acontecerá o mesmo com as religiões. No futuro os humanos rezarão aos deuses dos algoritmos. Como Harari diz, esses deuses não nascerão de nenhum livro contando estórias. Nem da ignorância de algum extremista. Esses futuros deuses já estão em gestação no “Vale do Silício”.
|