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A tua Imagem
Martinho do Rio

Resumo:
Acho que esta carta nunca te chegará ás mãos.

Martinho do Rio

A Tua Imagem


Lisboa 3-2-1999

Minha Querida meu Amor

Acho que esta carta nunca te chegará ás mãos. Porque nunca vou ter a coragem necessária para envia-la e, também, porque não sei qual é o teu novo destino. Vi-te partir não sei para onde, e qualquer coisa dentro de mim segredou ao meu ouvido a dizer que nunca mais te voltaria a ver. Mesmo assim decidi escrevê-la. Porque tenho fé e esperança que um dia a consigas ler.
Não te vou contar como te amei, porque isso já tu deves saber. No lugar onde estiveres de certeza que sentirás a minha falta, como eu sinto agora a tua. Fomos felizes quando estivemos juntos, e agora, que o destino irremediavelmente nos separou, pouco mais nos resta do que a saudade e as memórias de felicidade que ficaram connosco para sempre.
Mas eu quero mais. Quero ficar com uma memória eterna tua, algo que dure para sempre. Por isso agarrei numa fotografia, a melhor que encontrei, e resolvi transformá-la numa memória perene. Quero amar a tua imagem como um ícone, como se ama uma imagem querida, como se venera um santo de altar. Porque, para mim, és muito mais do que isso tudo, e não há santo ou sequer ícone, que alguma vez se te compare.
Sinto, como deves calcular, a tua falta. Desde que me deixas-te sozinho que entristeço como uma Madalena. Eu, que pensava que era forte como um touro, tornei-me, devido ao desgosto, tão frágil como uma criança. Ás vezes, quando saudade aperta mais, olho a tua imagem e lembro-me dos momentos felizes que passámos juntos. E são nesses instantes, nesses momentos quase mágicos, em que faço uma de viagem de regresso ao passado, que a minha vontade de tornar a tua imagem perene se reforça ainda mais. Eu tenho a tecnologia para isso. Gastei os meus últimos tostões a comprar todo o material necessário. E aquele que não consegui comprar, acabei por fabricá-lo com as minhas próprias mãos. Agora, com o material pronto e montado, vou dedicar os meus dias e as minhas noites a transformar a tua fotografia numa imagem perene; que guardarei religiosamente comigo como a mais querida das minhas imagens. Porque, meu amor, eu tenho outras imagens. Imagens que fui guardando toda a minha vida. Uma vida solitária como tu bem sabes. Uma vida a olhar pela janela, contemplando a vida que nunca poderei ter. Desde que fiquei preso ao meu quarto, que invejo os dias e as noites que os outros podem viver. Foi assim, que numa bela manhã de verão, quando olhava pela janela do meu quarto, que te vi. Fiquei imediatamente preso ao teu sorriso, á tua figura e aos teus belos cabelos negros. E quando um dia, por mero acaso, os nossos olhos se cruzaram, entras-te definitivamente dentro do meu coração. Foi a partir desse dia que te amei. E foi também a partir desse dia que jurei a mim mesmo que nunca nos haveríamos de separar. Quando um dia deixei de te ver, perguntei a medo o que te teria sucedido. E quando me informaram que tinhas partido, o meu desgosto foi tão grande que sinto que alguma coisa se quebrou dentro do meu coração. Foi então que decidi escrever-te, embora saiba que nunca enviarei esta carta. E foi também nessa altura que decidi tornar a tua imagem perene; através duma fotografia que te tirei da minha janela. Uma fotografia que te faz justiça, uma fotografia em que estás tão bela como um anjo do céu.
E agora meu amor, nunca mais sairás do meu quarto, da minha memória e do meu álbum de fotografias. Ficarás presa para sempre comigo. A tua imagem adorada ficará presa para sempre num holograma, e estejas onde estiveres ficarás a saber que te amarei sempre. Até ao fim dos meus dias.

O teu amor que sempre te amará








Biografia:
Escritor com o primeiro livro já publicado
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