Na ponte
entre o visível e o invisível
fazia sol.
Sol que nenhum olhar via.
Na rua de uma árvore só,
havia uma luz,
luz que meu olhar podia ver.
A tarde morria na espera das
palavras que o poema pedia.
Precisa-se sempre de novas,
mais inteligentes, mais discutíveis,
mais doces, mais murmuráveis.
Há sempre uma voz a sussurrar:
Quanta beleza tem do lado de fora e não as vê!
E foi assim... que saí,
com leveza no andar,
a amaciar o solo
que suporta todo o meu peso.
Sabia que a rua estava lá,
a árvore se não... beberia o pranto.
Isto de solitárias! Qual!
A gente parece tão igual,
nas tempestades,
ao sol queimando.
É bom sentir-me
feito um bambu abraçado a ela,
ou sentada em chinelas,
a ler imagens que fazem nascer
poemas na alma.
Uma velha árvore,
vista assim de baixo,
farejando o rio tão perto,
ainda em ampla vontade de se expandir,
tem o poder de me deixar
com a mão em concha no queixo.
A árvore alegra todos e nunca lhe damos alegria.
Pra saber que a estou a amar,
sempre, sempre, sempre...
pensei pôr as mãos na terra
e plantar uma nova árvore,
e assim o fiz, num domingo,
na minha rua.
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