Lá embaixo amor,
na densa noite escura,
a velha porta rígida
das dobradiças foi arrancada.
Mesmo que não quis,
uma luz álgida
penetrou meu ser.
Numa atitude serena,
fiz do sótão, meu abrigo.
Lá no alto amor,
abriu brechas no telhado
um fogo: o raio.
Meus olhos flecharam os céus,
fé e esperança se abraçaram,
luzes de outros sonhos
ilusões mortas sufocaram.
Lá fora amor,
vestida de uma luz grata,
surgiu bela nova aurora.
Chamei-a com olhos clementes.
Na paz do alvorecer,
brilhante, cheio de cores,
um arco-íris nasceu.
Pela janela, que lindo,
belo pardal voou,
pela força do querer
deixou-se conduzir.
Ora, pois, se ele assim frágil,
leve por dentro do éter fugiu,
em breve o perseguirei.
Cá dentro amor,
nesse silêncio encontrei
um enigma transcendente.
Que entre as névoas luminosas
revela-se majestoso o Onipotente.
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