Repousa a terra ao sopro do entardecer, pela estrada vou, vejo mistura de flor, cinza e mato; sinto aromas doces e notas de coração de flor de margarida.
Mas não quero pensar no cinza. Não quero pensar no mato. O que me importa é caminhar pelo jardim da vida e pensar além, porque para além da curva da estrada tem flores - margaridinhas subversivas - que me fazem tecer ramalhetes com meus pensamentos.
Olho para elas; tomam cor como um vestido delicadamente curto, graciosas demais para serem perigosas, silenciosas demais para serem temidas; elas me fisgam, uma de cada vez, e vejo, apenas vejo, que os traços de suas pétalas com minhas faces parecem.
E penso: que maravilha o fato de que a água caia gota por gota sobre nossas frontes, em vez de cair como um dilúvio!
E novamente escolho pensar, que frágeis somos fortes, blindadas pela dignidade de ter um pai, o mesmo que pôs a sabedoria nas nuvens, a inteligência no meteoro e a dúvida na tradução dos textos corrompidos.
Algum dia na vida, viste, acaso, sob o alegre concerto dos pássaros da manhã, flores plásticas plenamente felizes?
Não! Porque a felicidade não passa por entre elas.
Ou, umedecida por lágrimas que saem do coração, uma delas, por mãos trêmulas ser lançada à região dos mortos?
Não! Porque não representam círculo de vida eterna.
E, porventura, viste, o vento colocar os olhos sobre flores que não se movem e ser cativado por uma delas a ponto de convidá-la para uma escaldante dança a dois?
Não! Porque são frias as suas vestes.
Talvez, atraído pela arte cheia de cores e uma mentalidade ilusória, o olho que viu uma flor fria uma vez, volte a olhar para ela.
Quiçá, o dono desse olhar fique estupefato e ponha a mão sobre a boca e diga para si mesmo: que vantagem tenho em cheirar, um perfume, assim... tão desalmado?
E quiçá, de onde vem a luz, venha um anjo, para ensinar-lhe a amar a beleza da Natureza e sua alma bem viva goze a luz de uma nova morada, com espaço para um jardim que reúne um colorido vivo que vai além de qualquer coisa que se pode esperar.
Sempre é tempo de começar a buscar a essência da pessoa que somos. Observar flores faz um bem danado, elas podem ser um prazer, e grande parte do que somos revela-se no prazer que temos.
E sim. Você é uma pessoa bonita!
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