Estes últimos dias andei reassistindo na tv a cabo alguns clássicos eternos do cinema de ação das décadas de 80 e 90 e vi-me radiante, refém de minha própria nostalgia. Mais do que isso: fiquei me perguntando o que foi que o hollywood (e, claro, o cinema mundial) fizeram de errado nas últimas décadas, entupindo as produções do gênero de efeitos especiais que em nada acrescentam às tramas e com heróis que flertam com o ridículo e com a cultura arrogante dos lutadores de MMA e toda aquela falácia esportiva vendida pelo UFC.
É, meus caros amigos e leitores, assistir filme de ação não é mais a mesma coisa. E não é mais a mesma coisa há bastante tempo! Venderam-se à interesses escusos e mercadológicos que só fizeram afastar os verdadeiros fãs da gênero porradaria e entupiram as salas de cinema de nerds bestalhões e bitolados obcecados por piadinhas rasteiras e briguinhas que parecem mais arranjadas que aquelas que o SBT costumava exibir no telecatch.
Pensando nisso - e no fato de que já há algum tempo eu não escrevia um novo texto da série memórias de infância -, chego à conclusão de que é hora de prestar uma singela homenagem a esse período (e esse gênero cinematográfico) que eu costumava chamar, quando moleque, de cinema brucutu. Não, você não ouviu errado, não! Eu chamava esse tipo de filme desse nome mesmo toda vez que eu ia alugar um vhs na locadora. Cinema brucutu.
O cinema brucutu adentrou a minha vida (e a minha casa) lá pelos idos de 1988, 1989... Eu já demonstrava toda a minha gratidão ao cineasta Steven Spielberg (afinal de contas, o meu mundo nunca mais foi o mesmo desde que eu assisti E.T - o extraterrestre!), mas senti em meu íntimo a falta de alguma coisa. Mesmo sem saber explicar bem o porquê certa tarde de uma sexta feira deparo com uma série de fitas que traziam títulos como Conan, o bárbaro, Rocky II - a revanche (acreditem: eu vi a continuação antes do original), O grande dragão branco e Duro de matar. Na dúvida entre qual levar acabei gastando todo o dinheiro da minha carteira e levando todos. Pronto! Começava ali a minha saga pelo mundo extraordinário dos action movies.
Como fui pego de surpresa tomando a decisão de criar esse artigo, decidi classificar as produções do gênero em categorias para melhor me fazer entender perante aquele público posterior à minha geração, que talvez não entenda muito bem o que significou aquele período ou nunca tenha assistido um exemplar sequer daquela safra. Entendido? Prossigamos, então:
O subgênero "exército de um homem só": esse era um dos meus preferidos (senão o preferido). Faziam parte desta categoria aqueles personagens capazes - na ficção, é claro! - de destruírem sozinhos um exército com milhares de homens. E em alguns casos, usando as armas do próprio exército contra eles mesmos. Cabem aqui personagens clássicos como Rambo e Rocky (Sylvester Stallone), Exterminador do futuro (vai dizer que você nunca disse "hasta la vista, baby!" para alguém daquele jeito que o Schwarzenegger falou?), Braddock (Chuck Norris), John McClaine (Bruce Willis destruindo o Nakatomy Plaza, o aeroporto e o que viesse pela frente), Dolph Lundgren em Red Scorpion, Massacre no bairro japonês e em O Justiceiro, precursor dos filmes de supe-herói, Lou Ferrigno na sua fase pós-Hulk e tantos outros. Cabeças cortadas, membros arrancados, sessões de tortura, duelos até somente um homem continuar de pé, sanguessugas, decapitações... Essa categoria aqui só perde em sanguinolência e barbárie para o gênero Slasher (você sabe: Freddy Krueger, Jason, Michael Meyers, etc etc etc).
Os extraordinários (e únicos) filmes de kickboxing: essa categoria eu boto na conta das minhas noites e madrugadas assistindo tv aberta (não tinha esse papo de HBO, Netflix, Amazon studios nessa época, não!) até perder a hora de vista ou minhas pálpebras cansarem. E eu chegava na escola no dia seguinte na merda total. Billy Blanks (de O rei dos kickboxers), Don "the dragon" Wilson, Lorenzo Lamas (do seriado Renegado), Loren Avedon, Olivier Grunner, Jean-Claude Van Damme eram os que eu mais assistia. Inclusive - devo confessar aqui - os filmes do Van Damme que eu mais gostava de reassistir eram Retroceder nunca, render-se jamais e Contato Mortal, pois em ambos ele fazia o papel de antagonista e apanhava na cena final com grande maestria. Haviam coisas terríveis também, como Garras de águia e alguns longas com o Mark Dacascos (que fez o hoje inesquecível - para mim - Esporte Sangrento, onde flertou até mesmo com a capoeira), mas em sua grande maioria eram divertidíssimos e volta e meia eu os procuro no you tube.
Policiais alucinados, durões, investigadores à moda antiga: tirando o Martin Riggs feito por Mel Gibson em Máquina mortífera, essa é uma seção em que eu devo toda a gratidão a meu pai, pois tratam-se dos atores veteranos que acabaram me ganhando por sua classe e suas falas pitorescas (nesse tempo, eu ainda assistia filmes dublados). Paul Kersey, o vingador de Desejo de Matar vivido por Charles Bronson e Dirty Callahan, da série Dirty Harry com Clint Eastwood disputavam o posto de matador mais durão da época. E eu tinha um certa predileção pelo segundo, pois assistia também os faroestes do ator junto com meu pai, que nunca escondeu sua admiração pelo eterno e cult Era uma vez no oeste. Porém, além do trio, ainda havia espaço para personas que miravam mais o tipo engraçado, como o policial Dolley - interpretado por James Belushi - de K-9: um policial bom pra cachorro e o até hoje surtadíssimo Burt Reynolds em filmes como Caçada em Atlanta e Encurralado em Las vegas. E, claro, para encerrar com grande estilo, o megalomaníaco Axl Foley, com o qual Eddie Murphy nos presenteou na trilogia Um tira da pesada. Precisa mais?
O nossos amigos asiáticos também eram foda: Bruce Lee, mestre-eterno das artes marciais, homem por trás de épicos como Operação Dragão e O Voo do dragão; seu filho, Brandon, morto durante as filmagens de O Corvo, mas que mesmo assim nos presentou com Rajada de fogo (assistam! agora, se possível); Jackie Chan - que foi dublê de Bruce Lee uma época -, mestre em fazer suas próprias cenas de perigo e que ganhou hollywood, chegando a ser reconhecido pela academia; Chow-Yun Fat, este apresentado a mim por um dos maiores diretores asiáticos que eu tive o prazer de assistir no cinema: Mr. John Woo (e olha que o cara dirigiu até comercial da Nike com a seleção brasileira, na época de Romário, Bebeto e companhia limitada), e para ficar só no óbvio: assistam O Matador e Fervura Máxima. O resto eu deixo com vocês; Bolo Yeung, mais conhecido como coadjuvante de Van Damme em muitos dos seus filmes, mas também arrasador em Kickboxer - Dragão de fogo. Uma dica para essa categoria: procurem pelas produções da Golden Harvest e os longametragens produzidos em Hong Kong. Os mais fanáticos pelo tema ficarão de queixo caído.
Os estilosos: eu gostava de prestar atenção no estilo de cada lutador/ator, na luta marcial escolhida por ele e pude perceber muita gente boa, que até hoje não me sai da cabeça. Dentro dessa categoria, o primeiro que me chamou a atenção de cara foi Steven Seagal em Nico - acima da lei. Acho que foi a única ocasião em que eu cogitei em aprender uma arte marcial (para aprender o aikidô, estilo dele). Depois vieram Difícil de matar, Marcado para a morte, Fúria mortal e tantos outros. O tempo passou, Seagal engordou, teve aquela história mal contada de que ele foi agente da CIA e... Enfim... Outro que sempre me lembro é Jeff Speakman, mestre de Kenpo em A arma perfeita, vhs da CIC video que eu reassisti uma 7, 8 vezes (ou mais). Cheguei a praticar no meu quarto com dois pedaços de madeira serrados de uma vassoura velha. Só fiz machucar os cotovelos. E, finalmente, o mito. Digo, o verdadeiro (não certo político de araque que anda botando banca por aí). Não, meus amigos! Falo de Chuck Norris. Eu sei, eu sei que tinha mencionado Braddock lá em cima e ele merecia, na verdade, um capítulo só dele, mas tudo bem. Ele merece estar nessa categoria. Como deixar de fora a lenda por trás de clássicos como Vingança Forçada, Comando Delta, Octagon - escola de assassinos, McQuade - o lobo solitário e a série Texas Rangers? Não, eu não poderia deixá-lo de fora dessa. Ele provavelmente viria até aqui em casa para me esmurrar.
Memórias à parte (e elas sempre são um ato falho, não importa o quanto nos esforcemos), a lista é imensa, com direito a mulheres (Cynthia Rothroack, Brigitte Nielsen), milhões de sequências, franquias sendo retomadas por outros artistas (por exemplo: as continuações de O grande dragão branco foram feitas por Daniel Bernhardt), filmes do gênero perseguição ou assalto a banco (na linha de Velocidade máxima ou Caçadores de emoção), que abriram portas para gerações posteriores (leia-se: Milla Jovovich na série Resident Evil, Angelina Jolie na franquia Tomb Raider e em Salt, Kellan Lutz, Tony Jaa, Jason Statham e muito, muito mais).
Para alimentar ainda mais a sanha dos cinéfilos insaciáveis, uma pequena lista obrigatória: Operação Kickbox, American Kickbox, O Combate - lágrimas do guerreiro, Duplo impacto, Fúria Cega, Arena da morte, Jogo duro, O predador, trilogia Mad Max, Condenação brutal, Inferno vermelho, Flcão - o campeão dos campeões, Comando para matar, Leão Branco - o lutador sem lei,, A força em alerta I e II, Kinjite - desejos proibidos, Na linha de fogo, Malone: o justiceiro, Os bons se vestem de preto, Os irmãos kickboxers...
Eu sempre serei grato as sessões do Cinemax na Rede Bandeirantes, a minha antiga locadora Brother's Video (hoje extinta) e a uma galera com quem eu andava na época e com quem trocava filmes de vez em quando. Vi muitas raridades, inclusive filmes de kung fu antigos nas sessões duplas do Cinema São Geraldo (sempre intercaladas com sessões pornôs, que não podíamos assistir por sermos menores de idade). Pode parecer bobagem dito hoje, mas essa geração formou o cinéfilo e o crítico que habita dentro de mim até hoje. E sempre serei devedor disso.
E finalmente pergunto aos admiradores de meus artigos nesse canal: dá para cultuar o que se chama de cinema de ação feito hoje em dia? Pois é... Os brucutus ainda são eternos!!!
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