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O GRÃO DE CARINHO
ANTONIO LUIZ MACÊDO E SILVA

Em uma grande indústria de beneficiamento de grãos, dentre dezenas de operários, trabalhava Benedito. Respeitado e querido por todos recebera o apelido carinhoso de seu Bené. Mais recatado do que brincalhão, saía de casa antes que o filho estivesse acordado, e quando voltava, à noite, ele já estava dormindo. Abraçava e beijava dona Sônia que sempre o esperava com todo amor.

Uma coisa andava incomodando a cabeça de seu Bené: ele só convivia realmente com o Pedrinho aos domingos. Era a sua folga. E os outros dias era só trabalho. Apesar da dureza na fábrica não poderia largar o emprego porque era dali que tirava o sustento da casa e do colégio. Durante a sua ausência dona Sônia tomava conta do moleque. Ia deixar e buscar no colégio, ajudava nas tarefas... mas nunca supria a ausência do pai. É tanto que, com a admissão nesse emprego, Pedrinho caíra de rendimento escolar, e vivia pelos cantos, calado, muitas vezes surpreendido com lágrimas nos olhos. Dona Sônia não sabia o que fazer.

Sabedor do problema, Bené esperou ansiosamente o domingo próximo. Nesse dia conversou bastante com Pedrinho. Brincou, bateu bola... Foi um dia bastante agradável. Toda a atenção estava concentrada nele. No começo da noite entregou ao filho um pequeno pacote de castanha, “souvenir” da fábrica. Jantaram juntos. As castanhas foram rapidamente devoradas. Pouco tempo depois, estavam prontos para dormir.
Benedito rezou de mãos dadas com Sônia e beijaram-se. Ele continuou pedindo a ajuda do Espírito Santo para que resolvesse o problema do Pedrinho. Ela já dormia quando ele começou a sentir os olhos pesados. Por fim, adormeceu. Enquanto isso a noite corria fora para receber a manhã que se avizinhava.

A oração havia dado certo. O sonho foi como que real. Resolveu cumpri-lo a partir daquele dia. Tomou o café da madrugada, seguiu na direção da cama do moleque, deu um beijo no rosto e deixou no criado-mudo um grão. Despediu-se da esposa e saiu rumo à fábrica.

Quando o filho acordou, qual não foi sua surpresa! E sucessivamente este ritual era repetido pelo pai. Naquele grão estava a presença dele, e ele já não estava só.

Aproximadamente dois meses depois, o boletim do Pedrinho havia sofrido uma grande transformação. Notas maravilhosas. Tudo por causa de um beijo e de um grão. Não um grão qualquer, um grão sem valor; mas o grão, sacramento de alguém que se faz presença, e se faz presente no coração do filho que ele gerou. Um beijo e um grão de carinho fizeram a diferença. Experimente!

ALMacêdo



Este texto é administrado por: ANTONIO LUIZ MACÊDO
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