Hoje vi um pássaro que não podia voar;
o pensamento do homem ali presente,
homem de correntes de aprisionar,
mordia as palavras que lhe saiam
entre dentes...
Hoje vi um cão que não podia passear;
as ferramentas do homem ali diante dele
estavam prontas para as correntes e o ceifar,
coisas que cão não podia nem imaginar...
Hoje vi uma mulher que não podia desamar
sem que a morte lhe perseguisse sem demora;
suas lágrimas faziam um colar num rodear
o seu pescoço, marcas sem tempo e sem hora...
Hoje vi um homem querendo escapar de si,
rugia como fera, urrava como símio, não podia
compreender que se tornara presa sem poder fugir,
seus dedos retorcidos não mais escreviam poesia...
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