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CONVERSAR com o TEMPO
Tânia Du Bois


     Como levar a sério a conversa com o tempo?
     O tempo é palco dos acontecimentos com pequenas diferenças entre os dias. Aproveitamos o fiapo da memória como fragmento para recriar, reinventar e embalar a fantasia que acompanha a imaginação.
     A história mostra o avesso do realismo e o pitoresco como esboço das mudanças, que talvez se sedimente dentro de cada um ou no relógio parado. Para Agostinho Both, “O caminho da velhice vem com aparente discriminação, mas voluntariosa e irreparável”.
     Conversar com o tempo é abrir portas e janelas para recordar as peripécias dos dias; seguir para cá e para lá e encontrar outro amanhecer. No meio do caminho, contar inverdades e passarmos mais um dia com a vida voltada para o acaso.
     Contar o tempo é sentir medo e emoção; descobrir a diferença ao caminhar na contramão da beleza, que resiste ao tempo, sem deixar os valores do passado, que direcionam nossas atitudes. Assim, como para Agostinho Both que, nos últimos anos, dedica-se aos estudos sobre o envelhecimento, através da ambiguidade humana e seus conflitos; a trajetória para se chegar a velhice: lembranças, convivência, crenças e culturas - todos - tecidas pela memória e desveladas nas obras: O Lugar e o Tempo de Juvelino Messias Pampa; Excesso das Almas e das Coisas; Pequenos Seres da Terra; Sonhos Pedagógicos da Professora Antônia e Conversas com Velhos. Agostinho se apodera do tempo e nele se retrata, pois, quando fazemos o que gostamos, revelamos o que nos encanta e espanta.
     Conversar com o tempo é buscar nos sentidos a existência para viver a ventura de novos caminhos, por que somos mantenedores de nossas vidas. Desafiamos o tempo para envelhecer com respeito e dignidade e, não por acaso, descobrir o novo sem (muitas) restrições. Nas palavras de Both “... a velhice é um tempo que reúne, de uma vez, sonhos, angústias e alegrias que podem ser mais intensos porque finalizam a escritiva dos sujeitos”.
     Conversar com o tempo também é olhar para as rugas, como única denúncia, porque não estamos preparados para revelar a idade em sua significação. É comovente e ao mesmo tempo preocupante a passagem dos anos; não queremos perder tempo com a falta de foco, mas, sim, conversar com o tempo para produzir e fazer o que gostamos, sem nos entregar às dificuldades e restrições que a idade biológica apresenta. Como demonstra Agostinho, “... os aplausos ainda soavam aos ouvidos... era quarta-feira e não se cansava de falar sobre sua emoção de ser madrinha de um sino de som tão belo. Comentava orgulhosa que seu sino se adaptava aos momentos que anunciava”.
     Conversar com o tempo não é julgar, mas, aceitar as diferenças nas dobras do tempo, para não sentir a melancolia do envelhecimento, como revela Agostinho, “... velho pode falar do jeito que quiser, tem muito a perder, já fez muito e não carece de aplausos”.
     Conversar com o tempo é projetar o amanhã na tentativa de partilhar o melhor do que aspiramos, para provar que a alegria de viver, vigor e disposição tem a ver com a satisfação pessoal e a maturidade de cada um, no que chamamos de o “apogeu” da idade. Verdade ou não, o fato é que temos a chance de assumir o nosso estilo na virada da idade e de atuar na vida sem medo de ousar, mudar e cruzar fronteiras temporais para levar a sério o que conversamos.


Biografia:
Pedagoga. Articulista e cronista. Textos publicados em sites e blogs.Participante e colaboradora do Projeto Passo Fundo. Autora dos livros: Amantes nas Entrelinhas, O Exercício das Vozes, Autópsia do Invisível, Comércio de Ilusões, O Eco dos Objetos - cabides da memória , Arte em Movimento, Vidas Desamarradas, Entrelaços,Eles em Diferentes Dias e A Linguagem da Diferença.
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