Aos domingos, de manhã,
acordo cedo para fazer pudim de poesia;
três ovos de fonemas galináceos,
quatro pitadas de fermento de dicionário,
um punhado de sal do mar violáceo
onde dormem arraias gramaticais,
farinha de rinha entre dois vates,
açúcar mascado por potentes rinocerontes
que combatem roncando versos,
crosta de adjetivo ilusionista,
água de choro de poeta desiludido,
coloque na fôrma sem forma concreta,
leve ao fogo de mil e cem graus poéticos,
deixe quarenta minutos em fogo hai-kaiano,
deixe descansar como pés de poetisa
que acaba de andar cem léguas musicais,
coma, coma de novo, coma muito,
coma até acabar a fome de dourados signos,
limpe a boca com a palavra que restar,
deixe a vida no lugar que está,
vá descansar...
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