Tapetes que amaciavam os pés doloridos pelos dias de salto alto. A poltrona vermelha onde se aninhava com a caneca de café e uma edição da Folha de São Paulo, a mesa lotada de livros que não leu, de papéis e canetas que nunca usou. A casa pulsava Bruna.
A apressada Bruna queria que ele ficasse com a mesa para o computador, o edredom que compraram juntos na última liquidação de inverno, vermelho como os cabelos que não mais se espalharão pelo seu peito, pelos lençóis. A ruiva Bruna. O silêncio Bruna.
O calor de dezembro tosta seu rosto. Tira as caixas do carro, sua, elas pesam, mas os braços não sentem. As paredes nuas e os espaços vazios andam brincando com a capacidade de ter dor, de pedir ajuda.
Os novos tapetes são feios, a mesa custou mais caro e ainda deve ser de qualidade inferior. No lugar da poltrona vai colocar o ridículo pufe com estampa de zebra que a vendedora bonitinha insistiu que levasse. Mas hoje não, hoje não dá.
Passar o sábado fazendo compras parece automutilação, uma forma de intensificar o pesar pelo primeiro fim de semana sozinho. Que os novos e ridículos móveis esperem, já vão passar tempo demais juntos.
Desliga o telefone, chega de se perder criando desculpas para os convites que não quer aceitar. Respira a quietude trazida pelas conversas que não vai mais ouvir, o ar novo amortecendo os pulmões, a garganta. Tudo é diferente, assustador. Tudo é maior, intimida, enjoa.
Bruna não mora mais aqui.
DéboraS.Consiglio
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