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Empoderamento feminino de outrora....
O mundo mostrando que é inevitável negar....
Lauro Freitas

Resumo:
leiam....por favor.

Minha homenagem as mulheres de todo mundo.....

Não me lembro a data, mas sei que o fato ocorreu na década de 60 nos estados unidos. Naquela época o pais passava por um momento de revolta civil, mais especificamente da população negra que sofria há séculos com um racismo radical que mesmo depois da abolição continuava pungente, explicito e segregador. Naqueles dias de mobilização popular o governo (predominantemente racista) intensificou as restrições cívicas aos cidadãos da cor negra. Existiam restaurantes que não tolerava a presença de negros, escolas de alunos considerados pardos, latinos e negros, filas de supermercados e até ônibus em que negros podiam sentar-se apenas em locais determinados (isso se eles estivessem disponíveis). E é num desses coletivos que a nossa historia se inicia e tende a culminar.
Numa manha de domingo no estado da Virginia (o mais racista de todos os U.S.A, por se tratar de um estado remanescente dos confederados) uma determinada senhora da raça negra ( da qual, me desculpem, também não lembro o nome) saiu pela manha de casa á caminho da igreja...no caminho passou pela banca e olhou uma foto de um líder revolucionário negro com a mão erguida e os punhos cerrados, o jovem líder discursava para uma inflamada multidão e na legenda do jornal lia-se uma frase em destaque. A senhora pensou (provavelmente pronunciada pelo jovem líder), a frase parecia simples, mas estava em destaque e teve um peso determinante na tarde daquela senhora...e posteriormente em toda a historia das lutas anti racistas pelo mundo. O jovem negro exprimia inicialmente a seguinte expressão "EU TENHO UM SONHO..." e seguia com inflamado discurso, esse no qual a senhora não pode ler até o fim, pois tinha dificuldade em leitura e também por que já era próxima a hora de tomar o ônibus.
Então a senhora seguiu pela calçada, pensando naquela singela frase pronunciada pelo vigoroso negro com igual vigor e paixão, isso a animou sentiu que a situação dos seus irmãos afrodescendentes estava prestes a mudar, sentiu que era a hora daquele pais que os explorara e massacrara por tantos anos, saldar sua divida e definitivamente toma-los por iguais, por americanos que construíram aquela proeminente nação com sangue e suor sem remuneração e nem se quer dignidade. soltou um sorriso aproximou-se do ponto e esperou o seu respectivo coletivo cantando louvores a Deus e a aquele jovem que chamavam dentre os revolucionários de MARTIN LUTHER KING.
Passou cinco minutos em compenetrada e efusiva contemplação, até que um pesado ônibus encostou junto ao meio fio. Por se tratar de um bairro essencialmente negro, apenas ela e mais duas senhoras (também de bíblia em punho) embarcaram no rangente veículo. O coletivo estava ainda um pouco vazio, pois apenas um terço do trajeto havia sido percorrido até então. Ele ainda rasgaria a cidade rumo ao leste em direção ao centro.
As três senhoras sentaram-se em silencio nos bancos (reservados aos negros) e sentiram o ônibus zarpar lento e estridente.
Mais ou menos oito paradas depois o ônibus cruzava um bairro branco tradicional, cheio de descendentes dos coronéis do algodão da época da escravidão, ali era considerado o reduto dos radicais racistas, aqueles adeptos da extradição, do apartheid e das penas diferenciadas aos negros do país. Dizia-se, também, aos quatro ventos da Virginia que era ali o berço e o covil da CUX CUX CLAN.
Nessa parada nove homens e onze mulheres caucasianas acompanhados de 5 crianças subiram a bordo do coletivo. Ao verem as três senhoras negras sentadas no fundo da nave instantaneamente as crianças debocharam imitando macacos e cantando cantigas vexatórias endereçadas as três senhoras. As mães riam pelo canto da boca e demonstravam se comprazer daquela situação. Um dos homens, alto de aparência rude e chapéu de cowboy acomodou suas senhoras nos assentos, deu lugares as crianças (que continuavam a saracotear) e se dirigiu ao fundo do ônibus com mais dois acompanhantes da mesma estirpe...com olhar severo e superior exigiu que as senhoras cedessem os seus lugares a eles que no seu entendimento pertencia-os por direito de supremacia étnica e divina. As duas senhoras que embarcaram com nossa protagonista humildemente levantaram-se, uma até com certa dificuldade e se recataram resignadas ao fundo da nave, porem num ato resoluto nossa senhora permaneceu imóvel...O homem alto insistiu rispidamente apontando o fundo do ônibus atestando a ela, onde era de fato o seu lugar naquela "micro sociedade" que subjetivamente estabelecia um perverso paralelo com a realidade da macro. Ela manteve-se serena e compenetrada, lembrava da frase do jovem líder e tomada daquela inspiração revolucionaria quase poeticamente se manteve em absoluto silencio. O homem gritou, gesticulou e ordenou que o condutor parasse o veiculo. Os passageiros olhavam a cena estupefatos, os brancos começaram a reclamar de forma indignada como se aquela humilde senhora que estava a caminho da igreja estivesse cometendo o pior dos crimes capitais. Os negros na embarcação pareciam assustados e perplexos diante da atitude de sua irmã natural, nunca haviam presenciado uma afronta tão direta a aquelas regras, preestabelecida pelos brancos em detrimento dos direitos dos negros, aquilo era mágico, insano algo entre o sonho de querer transformar, que sempre fora coletivo, em uma realidade, representada ali por aquela humilde senhora...que sem dizer uma palavra sequer, teve o poder de inflamar o espírito revolucionário dos poucos irmãos que, ali estavam, da mesma forma como o jovem Luther King inflamou milhares de negros reunidos em comunhão nos jardins da casa branca. Naquele instante dentro daquele ônibus engendrava-se uma pequena revolução nos moldes da desobediência civil e não cooperação difundida por Mahatma gandhi, idealizada décadas antes por Thoreau.
Aquela humilde senhora empregada domestica sem base educacional provavelmente desconhecia tais noções de resistência política, no entanto sua dignidade, orgulho e coragem a equipararam ali a todos esses ícones revolucionários, pois é certo que a verdadeira revolução começa no indivíduo, passa pela minoria, rompe as hegemonias e transcende o tempo baseada única e exclusivamente em: coragem, perseverança e amor aos seus semelhantes.

Lauro Freitas


Biografia:
Não julgo biografia... como algo revelador, mas entendo que só será aprazível biograficamente.. aquele que se expor, mesmo que implicitamente.
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Publicações de número 1 até 7 de um total de 7.


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