ILAÇÕES DESCABIDAS
O rapaz tinha a fala fina, é bem verdade. E como se não bastasse, era meio esquisito e desconjuntado. Mas, ninguém pode julgar os outros pelas aparências. Só que todo mundo dizia que ele era gay.
Aconteceu até dele ficar noivo, e mesmo assim as pessoas continuavam a fazer mau juízo do coitado. Algumas comadres, cheias de malícia ainda diziam:
- Tem jeito não, desse moço esconder o que ele é.
Certo dia, depois de pensar um pouco, ele tomou uma decisão importante. E foi com a noiva até a igreja mais próxima. Lá chegando, falou para o padre:
- Nós viemos aqui, seu padre, para marcar a data do nosso casamento.
O padre, sem demonstrar a menor objeção, apenas brincou com ele. De uma forma toda inocente:
- Meu filho, eu bem queria celebrar esse casamento, mas vocês precisam vir aqui no tempo certo.
Pronto, bastou aquilo e o rapaz já virou as costas para o padre, saindo da igreja furioso. Cheio de raiva, ele dizia para sua noiva:
- Tá vendo aí, tá vendo aí? O padre está enrolando a gente com essa história de tempo certo. Vai ver que ele também acha que eu sou boiola e por isso não quer celebrar o nosso casamento.
Nesse ponto da história sou obrigado a sair em defesa do padre, porque nenhum padre deixa de casar duas pessoas que se amam, a não ser que elas sejam do mesmo sexo. Ora, o reverendo quis apenas brincar, o rapaz é que entendeu tudo errado, já que não foi capaz de se expressar de forma correta.
Tal como ele, qualquer um que queira casar-se, deve entrar na igreja acompanhado da noiva e dizer:
- Nós vimos aqui, seu padre, para marcar a data do nosso casamento.
Dizer "nós viemos aqui" é errado. Viemos é passado. Quando se fala do agora, devemos dizer "vimos aqui". Por isso que o padre brincou com o rapaz, pois ele, apesar de ter vindo ao lugar certo, havia chegado na hora errada.
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