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A LEMBRANÇA
Tânia Du Bois


     A vida apresenta curiosas e surpreendentes idiossincrasias como fonte de energia e criatividade, como a lembrança que lança o desafio de conversar para detectar o fato, quando procuramos saber o que rege a nossa vida. ”É proibido chorar sem aprender, levantar-se um dia sem saber o que fazer, ter medo de suas lembranças...” (Pablo Neruda)
A vida está na lembrança na qual tudo pode acontecer? Apegamos-nos à lembrança para dar algum sentido à vida? É mais fácil pensarmos que há o sentido – feliz ou infeliz - que aumenta a responsabilidade sobre os nossos atos. Acreditamos existir um motivo maior que una os fatos para provar que a lembrança é o nosso contato com a realidade, que reflete nossas ações.
     A lembrança interage conosco, porque nos dá conforto. Ela tende a nos levar a abrir uma porta para seguirmos outro rumo: a necessidade imperiosa de renovação nos acompanha e vai de encontro à nossas vidas. Banal ou significativa, a lembrança ocorre todos os dias e pode nos inspirar pela bagagem de afetos que carregamos. “...As lembranças, as boas lembranças / mal resistem à acidez das lágrimas / refluindo a origens inseguras. // ...Encontrarão talvez aquelas imagens perdidas / nos sonhos antigos?” (Antonio Carlos Osório)
     Às vezes, nem gostamos do que lembramos mas, quando percebemos, vem à mente reforçando nossa capacidade de viver. Ela sobrevive ao tempo como questão de prioridade. Segundo Luiz Guimarães, “...vontade de ver de novo,/aquilo que lembramos / e que feliz nos faz, / em dias passados da vida.”
     É bom lembrar para saber o significado do acontecimento, e só assim podemos alcançar, quem sabe, a felicidade, como em Pedro Du Bois, que lembra sobre Agosto de 1965, “...Lembro da neve caindo forte, / branqueando ruas, carros, os bancos da praça. // ...Todos pararam, / menos nós, jovens inquietos / circulando pela cidade. // Bonecos, / guerra de bolas, / bola rolando rua abaixo, / chuva congelando a neve. / O frio congelando todos nós.”
     Enquanto isso, a lembrança pode nos guiar e até nos puxar pela mão. Na dúvida, a respeito do que rege a lembrança, o melhor é fazer o que está ao nosso alcance para aumentar as situações benéficas, porque ela não tem ponto de retorno, apenas momentos históricos, como em Danuza Leão, “Com o pé no passado, lembro de coisas que não dá para acreditar: do tempo em que as desquitadas eram mal vistas; do amigo que se matou porque descobriram que era gay;da grande ousadia que era uma moça trabalhar quando seu destino já estava traçado: estudar francês e piano e casar e das mulheres que escondiam e que pintavam os cabelos. Faz tanto tempo assim? Ok, foi no século passado, mas ainda lembro bem”.
     Manter a lembrança, serve para prevenir e enriquecer as nossas experiências, ou o que estamos querendo de nós. A dor faz parte da vida tanto quanto a alegria. Prolongar a tristeza pode empatar a vida e impedir que as coisas boas aconteçam. Lembrar é indispensável para conquistar o amanhã.










Biografia:
Pedagoga. Articulista e cronista. Textos publicados em sites e blogs.Participante e colaboradora do Projeto Passo Fundo. Autora dos livros: Amantes nas Entrelinhas, O Exercício das Vozes, Autópsia do Invisível, Comércio de Ilusões, O Eco dos Objetos - cabides da memória , Arte em Movimento, Vidas Desamarradas, Entrelaços,Eles em Diferentes Dias e A Linguagem da Diferença.
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