Tenho observado o grande número de envelhescentes presentes nos templos. O que noto, e é frequente, que suas dedicações são reais. Estão, não raramente, em busca do conforto espiritual. São pessoas já resolvidas e maduras, algumas até anciãs. Não sei precisar qual é idade que se possa chamar de ancião, pois fico confuso em determinar quando se é velho. Talvez o termo “velho” não seja correto. Remete-nos ao carro velho cheio de defeitos, reformas a fazer e com a roda já na porta da siderúrgica para reciclagem. O termo idoso, às vezes não é muito simpático, está muito batido. Envelhescente é charmoso e traduz bem a realidade, minha e a de muitos. Somos resolvidos. Alguns determinam idades para a envelhescência: Fazemos sessenta e tornamo-nos automaticamente velhos. Nesse pensar, aos oitenta tonamo-nos cacos, aos noventa vamos para a reciclagem e aos cem vamos para a capela. Faça-me o favor! Não funciona assim!
O corpo sofreu a transformação inerente ao longo tempo percorrido. Não nos impressiona tanto. A natureza é justa. As ancas femininas sofreram decréscimo, pois a fertilidade já cumpriu o seu papel. Entretanto o charme ainda é o mesmo. As barrigas masculinas já dão o ar de sua graça, estão aí, com algum charme, algumas nem tanto. Para um envelhescente, a barriga de tanquinho não chega ser uma “Brastemp”, mas a gente vai levando. Os mais otimistas dizem que é calo. Somos pretensiosos.
Acompanhamos nossas parceiras aos templos de oração, independente que qual seja a religião. Nós vamos ao encontro de conforto espiritual também. Na velhice a espiritualidade tem uma enorme relevância. O templo é um ambiente mágico onde vamos agradecer pela dádiva da existência e orar para si e para os nossos. Muitas vezes as doenças inerentes à longevidade estão na lista de prioridades. Sempre tendo o cuidado de não misturar a Instituição com a religião. São coisas diferentes.
Os asilos com boa estrutura têm a sua capelinha para que devotos conversem com as divindades, num papo particular e discreto. As capelas dentro de hospitais são de grande ajuda para as orações pelos enfermos.
O ambiente da espiritualidade é benéfico. Até os ateus sentem-se bem, embora jurem que não seja bem assim. Os de meia idade tentam empurrar-nos novas teorias a respeito do espiritualismo, mas é puro modismo, pois na essência nada mudou: a ligação com a subjetividade sempre foi a mesma. Há alguns proselitistas que juntam quântica com espiritualismo. Não deem muita bola, pois como dizia o Cristo, eles não sabem o que dizem. Misturam coisas físicas com coisas não físicas e dá um bode danado. Entretanto, uma oração de gabarito cura muito e ajuda sobremaneira. Isto até a minha bisavó sabia. Os cientistas gastaram os tubos para chegar à mesma conclusão. O mesmo se deu com a pesquisa da NASA que revelou depois de ter gasto alguns milhões de dólares, que a refeição ideal para os astronautas seria arroz, feijão, um bife(não da Friboi) e uma salada. Meu bisavô já sabia disto. E é o que o brasileiro como todo o santo dia. O mesmo aconteceu com um cientista holandês que pesou o espírito do vivente que acabara de morrer e ainda publicou em revista, disse pesar algumas gramas. Espírito não tem peso, pois não é matéria. Dá licença, poupe-nos! Rezar é ótimo e nos trás benefícios e quando rezamos para os outros, as dádivas para nós só aumentam. Os envelhescentes são os maiores rezadores, pois aprenderam durante a sua longa jornada que, objetivamente a subjetividade apresenta-se como coisas objetivas. Trocando em miúdos: Orando, a gente consegue. Rezem, não dói nada, é de graça e os benefícios são muitos. Nós, envelhescentes, sabemos.
Sérgio Clos
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