Eis o solar da memória.
Solar do cardeal.
Jazigo eterno dos meus astros!
Espaço entre vidas onde ecoam
Passos mortos ...
E escuto passos, tantos passos,
Sinto mortos, tantos mortos ...
Silêncio! Nada mais em seu redor ...
Punhais que se entrechocam
Numa imensa escuridão!
Ninguém! Só eu! Um dos mortos!
Onde estão os meus parentes?!
Minha mãe, meu pai, meus irmãos?!
Onde? Onde?! Todos mortos!
Não há nada! Só silêncio!
Ninguém! Só eu! Morto que espera
O regresso dos seus mortos ...
Não tornarão! A casa desabou!
Minha espera é infinita
A noite triunfou.
Fiquei fora da casa.
Sem pátria nem berço
Sem história, tão só!
Estarei vivo ou morto?! Não sei!
Entro ou espero? Entro!!!
Estou exausto desta vida d'olhos cegos.
Verei enfim meus mortos
E os mortos dos meus mortos!
Que solidão sepulcral ... Fria espera
Desses mortos. Não entro! Porque afinal,
Lá dentro, só há corpos de quem fui!
E choro de saudade frente à memória
Do solar e parto!
P.S./ Versos ao Solar dos Condes de Portalegre em Évora, casa onde outrora nasceu D. Miguel da Silva e Menezes, cardeal Viseu.
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