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Texto selecionado
É poesia ou não é? |
Roberto Queiroz |
"Até onde vai a poesia na sua poesia?",
pergunta o crítico em meio à multidão de fãs e jornalistas
que compareceram à sessão de autográfos do meu último livro.
E eu travo na hora.
Nunca soube responder a essa pergunta.
E ela me foi perguntada muitas vezes.
Eu tenho parado para pensar nos últimos anos
se o que eu escrevo pode ser chamado de poesia
ou não.
E acredito
no final das contas
que o que eu faço é, isso sim, um enorme desabafo.
Eu exponho meus demônios interiores
expulso os fantasmas do armário
que eu venho acumulando desnecessariamente desde a década de 70
por preguiça ou falta de vocação
para enfrentá-los
confesso meus delitos de garoto
inconsequentes
mas que me fizeram chegar até aqui
até essa coisa que o mercado editorial (sempre ele!)
chama de best-seller.
O crítico continua me encarando
espera que eu diga algo
mas as palavras me fogem
e eu desvio do assunto.
Chega um casal de gêmeas
Lorraine e Sylvie
dizem que são minhas leitoras desde o primeiro livro
e o que o preferido delas
foi justamente o que eu mais tive dificuldade de terminar.
É sempre assim.
O crítico, impaciente, não desiste
e tenta me atacar com acusações do passado
invenções dessa imprensa marrom
que me persegue desde o fim dos anos 90.
Mais uma vez eu o esnobo.
Cansado
ele desiste e vai embora
ao som das vaias dos meus leitores.
E eu sorrio.
Sorrio e me pergunto,
depois que ele se vai:
onde começa
e onde termina
a minha poesia?
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Biografia: Crítico cultural, morador da Leopoldina, amante do cinema, da literatura, do teatro e da música e sempre cheio de novas ideias. |
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Publicações de número 1 até 10 de um total de 188.
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