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A LINHA E A POMBA
A natureza brotava e a pomba, ao posar na soleira da varanda, olhou e entendeu a felicidade.
ROSA DE CASTRO

Na casa grande uma Mucama costurava lindo vestido de cetim branco. Era de Sinhá-moça, longos cabelos pretos, olhos violeta e pele clara.
Os rapazes da redondeza a fitavam se deliciando com sua pureza, sensualidade e, ao mesmo tempo, aquele lado de menina que transparecia em seus gestos e olhar.
Tudo que se relacionava com Sinhá-moça Mucama fazia gosto.
Deslizava uma linha de seda branca naquele vestido que mais tarde iria cobrir a película transparente de Sinhá.
... “A festa na corte fará sucesso, pois linda como é a notarão”, pensava Mucama.
Estava a coser quando uma pomba posou na soleira da varanda. A pomba por diversas vezes fez movimentos para retornar ao vôo, porém, hipnotizada com a leveza do tecido, a delicadeza da Mucana e a brancura da linha acetinada, o máximo que conseguia era passar de um lado para outro. Até que se encheu de coragem e perguntou à majestosa linha que unia o tecido projetando sua forma:
- Como consegues ser tão feliz estando presa para sempre num armário fechado ou, junto a um corpo, sem poder ir onde quer?
- Ora, é bem verdade, tens razão. No entanto, não conhece a minha ama. Faço com muito prazer parte do vestuário. Afinal, pertenço a uma jovem encantadora. Irá levar-me a uma festa e nela belos rapazes por certo me acariciarão.
Soberba, balbucia – “Sou de seda, coso cetim e visto o mais belo corpo da corte”.
A pomba bateu as asas ao se aproximar Sinhá-moça.
Ficou perplexa não só com sua chegada repentina, como, mais ainda, com sua beleza. Olhou para a linha e compreendeu o porque da felicidade. De repente, uma sensação de bem-estar como nunca sentira. Sinhá a pegou carinhosamente e assim, permaneceu por longo tempo até que Mucana, pronto o vestido, convidou-a para a última prova. Faceira, levantou-se com a pomba ao colo. Em seu quarto, a pomba já colocada na cama, assistia deslumbrada à meiguice de seus gestos; sua voz suave como canto de pássaro. Tudo era perfeição: - busto, quadril, coxa. Tudo.
- Psiu! Psiu! Chama a linha à atenção da que há muito nada assistia.
- Desculpe, estou deveras satisfeita, e se fosse você sentiria orgulho de cobrir como ostra esta pérola.
Após longo e delicioso banho, Sinhá se enleia em um robe de crepe vermelho e, como uma Deusa, coloca o vestido sobre si dando um profundo suspiro.
Observa a hora e vê que dispões de poucos minutos. Grita por Mucama, para ajuda-la a vestir. Desnuda-se e dá início ao preparo. Veste o espartilho, ligas e meias, e por fim o deslumbrante vestido de cetim branco. Senta-se à penteadeira e, com auxílio de Mucama, arruma os cabelos.
“Ficou deslumbrante!” Exclama Mucama.
A pomba esfrega sua cabeça junto às almofadas, como se acomodasse para dormir.
O enorme silêncio. E com ele a penumbra no quarto. Sabia que tudo era agradável, mas quem ia divertir-se de fato era a linha, enquanto...
Noite alta, escuta o abrir da porta. Sinhá retornando.
Despertou, e atenta observou cuidadosamente. O vestido descansava no cabideiro e Sinhá, com a delicadeza peculiar, dormia.
Algumas almofadas, e junto ali, permanecia ansiosa.
- Linha, acorde. Com foi? Estava animado? O vestido fez sucesso? Aflita, perguntava sem parar.
- Há! Acha que vou lhe responder estas perguntas agora? Quero mesmo é descansar.
- Espere! Fiquei ansiosa por seu regresso e você quer dormir? Deixe de egoísmo, completa a pomba magoada.
A pomba refletiu, e resolveu tomar uma decisão: ...“No dia seguinte, bem cedinho irei agitar tanto este aposento que Mucama vai abrir à janela e voarei pra longe. Tudo é muito bonito, porém não nasci para a clausura.Ficarei no ar e comigo a liberdade. Valerá ser tratada como pomba de estimação e cercada pela Sinhá-moça, se não posso desfrutar da vida?”...
Entretanto, a situação da linha é diferente. Porque continuará tecendo e unindo-se e por certo, elogiada.
...”Ah! Minha amiga nasceste para essa civilização!”...
Ao amanhecer, a pomba não perde tempo.
Nem Mucama, nem Sinhá, e muito menos a linha, estavam entendo.
Nisto, a pomba fala:
- Sabem da verdade? Sou pura, bela e livre. E, sabem do que mais? Sou ao mesmo tempo Sinhá, Sou linha, e isto me basta.
A natureza brotava e a pomba, ao posar na soleira da varanda, olhou e entendeu a felicidade.


Biografia:
"Brasileira, Carioca e guerreira." Geralmente vou ao encontro de meus ideais. Obstáculos? Alguns... Os vejo como ferramentas para meu fortalecimento. Quando algo negativo acontece os transformo em pontos positivos para um crescer vitorioso. Acredito... Em Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo e depois em mim. Simples assim...
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