Uma Infância um tanto sofrida.
Irmã mais velha de cinco irmãos, menores. Seu pai trabalhava no campo e sua mãe no lar. Quando lhe sobrava tempo o ajudava, deixando de lado os deveres da casa.
Ela cresceu, se tornou adolescente muito bonita e cheia de sonhos. Sempre trazendo consigo a esperança de levar segurança aos pais e irmãos.
Pois bem, numa tarde...Em sua Cidade natal reencontra uma amiga de infância de passagem na Cidade. Vestia-se relativamente exagerada. Mas aos olhos de menina-flor...
Conversaram muito e desta conversa surgiu à promessa que tanto esperou... “Ir para Cidade grande”.
Lá ser empregada, ganhar dinheiro e melhorar de vida.
Sem contar... Levando consigo seu maior segredo.
Sugere a amiga ir a sua casa...
- Não é longe, diz.
Levando ao conhecimento dos pais a proposta... Estes, a escutaram atentos.
- Onde seria? Perguntou o pai. Responde imediatamente:
- Rio de Janeiro, ou melhor, Centro da Cidade do Rio de Janeiro – Lapa e completa alegando que a amiga trabalhava com massagem.
Não pensou duas vezes.
- Muito bem! Deve ser bom, filha. Só assim ajudará as pessoas.
Só que não sabiam e nem ela tão pouco em se tratar de um âmbito de prostituição.
Conheceram a amiga criança. Hoje moça e diferente de quando partira. Sentiram-se acanhados pelo desdobramento da amiga da filha...
Mas, são coisas da Cidade...
O tempo passou...
A saudade cada vez maior. Menina-flor mudara muito e sofria com todo aquele clima. Era obrigada a viver aos mandos da Cafetina.
Bem verdade, estava ganhando dinheiro e isso, a aliviava pela sua família mais amparada, inclusive.
Porém era muito difícil àquela jovem de dezenove anos suportar. Uma menina simples vinda do nordeste. Nada sabia da vida e por perder a virgindade com um primo escondendo dos pais optou a vir tentando trabalhar em outra Cidade. E se possível, casar e construir uma família. Sem necessariamente, os pais tomarem conhecimento do fato. Sabia da represália que sofreria caso viessem a saber.
Nesta casa de massagem não havia distinção de classe social, cor, sexo, grau de escolaridade – nada! Aceitava qualquer um que mandavam. Era um recinto de terceira a quinta categoria. Não havia higiene de espécie alguma, ou melhor, o mínimo necessário. Principalmente, para evitar algum problema futuro com a casa.
O tempo decorre.
De repente, menina-flor adoece. É obrigada a hospitalizar-se no Souza Aguiar. Seus pais são avisados.
Com as economias que conseguiram juntar, partiram ao encontro da filha, hospedando-se na casa de uma amiga em Vila Mimosa. – No Centro da Cidade.
Foi aí que entendeu, tudo. Revoltou-se e gritou.
- Não pode meu Deus! Mas a mãe, coitada... Entendeu e tranqüilizou seu velho. - A solução é triste, mas única para alguém como nós. Este mundo é dos esquecidos e quando se trata de sofrimento...Blasfemou.
No hospital a situação de menina-flor complica e cada vez mais enfraquecida.
Tomam conhecimento se tratar da “AIDS”.
- O que é isso? Perguntam os pais desesperados ao Médico.
- Doutor não entendo bem. Sei que mata. Meu Deus, doutor minha menina vai morrer?
Vendo a ignorância e inocência estampada em seus rostos, apenas lhe disse ser um mal sem cura e que sua filha, fatalmente iria, falecer.
Lógico, não tinham recursos. Bem como, manter um tratamento tão dispendioso que prolongasse sua vida.
Nestas idas e vindas ao hospital os dias decorrem com sofrimento, lamentos e dor. O dinheiro acabando. ... O que fazer?
Arranjaram um biscate na Vila Mimosa...
Seu pai como porteiro de um inferninho e sua mãe faxineira.
Numa noite, foram chamadas as pressas ao Souza Aguiar. Menina-flor piorou muito. Com problemas respiratórios e demais complicações, rezam, rezam...
Mas, chegou à hora e dela ninguém, escapa.
Uma menina que por ser bonita, guardar um segredo de um amor proibido e almejar melhorar a vida dos pais e conseguir ter sua família...
Colocou seu corpo a mercê dos prazeres da carne. E perde sua vida que antes fora cheio de sonhos...
Seus pais apesar de tudo só permanecem até conseguir o bastante para enterro, passagem e alguns trocados. Retornam com a grande perda.
Verdade dura! Havia os menores que esperavam e precisavam, deles. Porém, mais experientes.
Não iriam permitir que um simples convite destruisse seus outros filhos. Prometendo ficar atento as novas e duras mudanças da vida. Por mais simples e fácil que pareça aos seus olhos.
|