As coisas do mundo quis todas,
as mais caras,
as mais belas,
as mais loucas,
e, uma a uma, possuí-las
como fazem os salteadores com as jóias,
os gênios com as idéias,
as tempestades com os destroços,
a música com os ouvidos,
quis, sim, possuí-las,
com minh'alma
e todos os sentidos...
As coisas do mundo, uma a uma,
por entre os vãos dos dedos escaparam,
os oceanos que quis possuir se transformaram em água,
as terras, repartidas e cercadas e com nome na porta,
em campos repletos de flores e árvores silenciosas viraram,
as muralhas em areia,
as sementes em relva sobre montanhas,
e eu, dono de nada sem nada mais possuir,
fiz de mim a posse de outro reino,
que não se vê mas se cria,
me tornei apenas palavras,
apenas palavras no livro da poesia...
Hoje, que nem mãos mais tenho,
não sei para onde vou,
nem quem sou
e nem venho
a desejar o que nunca foi meu,
apenas ser o reflexo límpido
no lago sereno de Deus...
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