Quando passas, com a pressa de quem o tempo ultrapassa,
me sinto um espantalho a te olhar de rabo de olho;
fixo meu corpo para não me tornar caça,
para não cairmos, juntos, no poço
da irrealidade
onde os insanos caminham sobre lâminas
e os sanos(?) compram e vendem o ouro
e vivem suas impróprias verdades...
Quando te cansas e parece me espiar,
me sento ao seu lado e passamos a conversar
sobre a temporalidade das coisas,
o tempo que dura a maçã,
o salto preciso da rã,
se o que temos nos bolsos vale mais do que o que somos,
se nossas promessas de curar nossos males
ainda estão valendo,
se isto que nos acontece é o viver
que estamos vivendo...
Quando pareces recuperado
vai por sua estrada de cabeça baixa e sozinho,
digo adeus e sigo o escarpado caminho que me foi dado;
o céu, que nos olha do alto, sabe que somos como uva e vinho
mesmo que sigamos quase como estranhos, juntos e separados...
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