Sempre que posso vou à missa, geralmente aos domingos. Mas aí o padre, numa de suas controvertidas pregações, pergunta em voz alta:
- Sabem por que a maioria das pessoas não são felizes no casamento?
Silêncio geral. Ninguém responde à pergunta dele. Nem mesmo eu, que sou casado faz tempo, me atrevo a dar qualquer palpite.
Então ele me sai com essa, como resposta ao questionamento que lançou aos fiéis:
- É porque as pessoas se casam pensando exclusivamente em ser felizes.
Ainda em silêncio, conversando apenas com meus botões, eu pergunto em voz baixa pra mim mesmo:
- Ora, quem é que casa pensando em ser infeliz? E o que é que um padre pode saber do casamento, se ele nunca casou?
Indiferente ao que eu penso, ou deixo de pensar, o padre continua:
- O que muitos não sabem é que o casamento não foi feito, simplesmente, para que as pessoas sejam felizes. O casamento é uma entrega, uma doação, um ato de sacrifício e de renúncia.
Nesse ponto sou obrigado a concordar com o reverendo, pois o casamento exige, de nós, algumas renúncias e sacrifícios. Mas, se nem tudo são flores no casamento, nem só de espinhos ele é feito. O casamento, em si, não é tão somente um ato de renúncia e de sacrifícios: ele tem lá suas delícias, das quais nenhum padre jamais provou. Ter filhos, por exemplo, é uma delas.
Uma coisa, porém, é certa: todo mundo casa pensando em ser exclusivamente feliz. O que não pode é alguém almejar a felicidade sem dar nada de si ao outro, já que num relacionamento matrimonial a gente só é feliz quando faz o outro feliz também. Mas um padre nunca experimentou isso na pele, porque casar é coisa que ele não pode.
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