Numa manhã de sábado, movido apenas pela força do hábito, entrei mais uma vez naquela livraria. Meio entediado ainda folheei alguns livros, mas não vi nada de interessante neles.
Já ia dirigindo-me à porta de saída quando uma mocinha veio ao meu encontro, se desmanchando toda em sorrisos. Difícil resistir a tanto charme e simpatia: abri um sorriso também. Então ela chegou mais perto de mim e perguntou:
- O senhor precisa de ajuda?
Naquele instante, lembrei dos versos de um grande poeta e até me deu vontade de recitá-los para ela: "Não me chame de senhor/ Que não sou tão velho assim/ Perto de você, meu amor/ Não sou senhor nem de mim."
A morena fez-se tão cheia de graça e delicadeza que findei comprando um livro. Antes de sair dali, ainda reparei melhor no jeito dela. Era uma moça bonita, alegre e cheia de vida.
Dois anos mais tarde, rendi-me definitivamente aos encantos daquela vendedora. Como não houvesse outra forma de ser feliz, casei-me com ela. Tarde demais pra fugir de um sentimento tão forte e arrebatador. Deu-se que, por um simples capricho do destino, eu já não era mais "senhor de mim".
Jota Santiago
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