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Ascensão e queda de Joe Quesada
Roberto Queiroz


Joe Quesada, o bailarino. Quem o viu no ringue não esquece. O Jeb perfeito, a esquiva impecável, a postura, a fúria, o jeito esnobe de dar entrevistas, as brincadeiras na hora da pesagem que tanto incomodavam os adversários. Quesada era único em sua categoria, o peso galo. Para a mãe, era o menino Tutu (a comida que ele mais gostava). Saiu do Rio de Janeiro desacreditado. A única coisa que ouviu dos treinadores cariocas enquanto esteve aqui foi: "desista, garoto. Boxe não é pra você. Falta biotipo para encarar essa barra." Foi assim durante mais de cinco anos. Até que surgiu uma oportunidade de treinar na Inglaterra, um milionário excêntrico de nome Jeffrey Holmes viu Tutu brigando na rua com um garoto que havia xingado a mãe dele. Foi a última vez que ele falou mal de alguém na vida. Surpreso com a pegada e o estilo de Tutu, procurou os pais do menino e fez o convite, que não foi aceito logo de cara porque os pais pensavam que se tratasse de algum pedófilo. O pai só aceitou a oferta quando Jeffrey lhe disse que ele poderia vir junto. Foi graças ao treinador Ferguson que refinou sua técnica e ganhou o pseudônimo: Joe Quesada. As primeiras lutas, difíceis, foram as mais importantes de sua carreira já que lhe ensinaram qual a manha para sobreviver ao mundo do boxe. Muito lobby, muita mulher surgindo na área, até mesmo atrizes famosas de Hollywood, que o empresário vivia insistindo "fica longe dessa perdição, Joe. Já vi muitos se acabarem por causa dessas mulheres fúteis. Tudo o que elas querem é o status que você pode oferecer a elas. E nada mais." E se mantinha longe, não só por respeito a Jeffrey, mas porque sabia exatamente o que queria. Depois que conquistou o cinturão da Associação Mundial de Boxe em sua categoria, Quesada ficou se pensando em qual seria a sua próxima meta: unificar os títulos. E unificou. 23 desfesas, 23 nocautes, 19 no 1º round. Outros empresários começaram a pipocar, até o grande Don King, querendo tirá-lo de Jeffrey, mas ele não topou. Se tinha algo que Joe entendia bem era de gratidão. Até porque poucos ao longo de sua vida haviam realmente o ajudado e ele dava muito valor a essas pessoas. E a euforia provocada pelo seu sucesso parecia que nunca ia acabar. Até o fatídico dia da luta entre Mike Tyson e Evander Hollyfield, que teve um pedaço de sua orelha arrancada num ato de pura brutalidade. A barbárie havia tomado conta do esporte. Redes de TV começaram a discutir se ainda havia espaço para o boxe na sociedade contemporânea. aqueles que nunca foram fãs do esporte (por considerá-la uma violência legalizada) aproveitaram para fazer campanha pela exclusão do boxe dos jogos olímpicos. Lutadores de renome decretaram sua aposentadoria prematuramente, pois acreditavam que era questão de tempo para que todo o circuito tivesse fim. Las Vegas, sede mundial de muitas lutas que se tornaram antológicas, começou a atirar para outras direções. Surgia o MMA, mixed martial arts. E com eles os Vale Tudos, os UFCs e tudo aquilo que Quesada tanto recriminava. "Onde já se viu permitir cotovelada, chute, estrangulamento numa luta? Isso não é esporte. Isso é uma batalha medieval." Foi o começo de sua despedida dos ringues. O boxe passou a segundo plano. Convidado para ser comentarista em algumas das edições do UFC, Quesada não só recusou como se pronunciou negativamente sobre o esporte. E, com isso, irritou profundamente os organizadores desses eventos, que até hoje estão movendo processo contra ele. Hoje Joe Quesada vive do dinheiro que sua academia fatura. Não quer mais saber de lutas nem de participar como comentarista de nenhuma competição esportiva. Seu último convite recusado foi uma oferta para trabalhar durante as transmissões dos Jogos Olímpicos de Londres. Contudo, mesmo aposentado é difícil esquecer de Joe Quesada. Apesar de toda a onipresença de lutadores como Anderson Silva e Minotauro, ainda existe um grupo de nostálgicos que torce por um retorno dele ao esporte que consagrou lendas como Joe Louis, Mohammed Ali e Mike Tyson (antes da atrocidade esportiva que cometeu e que ajudou - e muito - a queimar a modalidade). Quando perguntado sobre o futuro, ele respondia: "a Deus pertence, mas honestamente espero que seja longe dos ringues. Meu tempo já passou e não havia toda essa necessidade de ostentar a violência barata. Pra mim já deu. Espero que os fãs entendam a minha posição." Será que os fãs um dia entenderão, Quesada? Parece ser a pergunta que mais ressoa atualmente na mídia quando o seu nome vem à baila.


Biografia:
Crítico cultural, morador da Leopoldina, amante do cinema, da literatura, do teatro e da música e sempre cheio de novas ideias.
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