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Ode aos babacas
(Brasil em tempos de crise)
Roberto Queiroz

     Não sou eu que tenho razão nesse país de merda. Pessoas como eu não têm razão nesse país. Quem tem razão é o cara grosso, estúpido, que arrota, baba, peida, se acha o tal, está sempre contando uma versão puritana de si mesmo, ofende todo mundo, é racista, homofóbico, intolerante, metido a moralista e religioso, que não tem opinião própria, age como se o mundo estivesse a seu inteiro dispor, gosta de dizer que é popular, famoso, é escroque, atrevido, abusa de menores, agride idosos, é misógino, ultrapassado, tem mau gosto, se veste de palhaço, escreve livros de auto-ajuda para ficar milionário e enganar pobres otários, muda de opção sexual como muda de roupa antes de sair de casa, não tolera conviver com outras pessoas que não respeitam a sua opinião ou não tenham o mesmo status financeiro que ele... Em suma: quem tem razão nesse país é o protótipo básico do babaca por vocação. Quem não se enquadra nesse segmenro bunda mole - contraditório - fingido não vinga e não merece ser copiado. Sim, porque aquilo que é ruim nesse país precisa ser copiado à exaustão. Do contrário, não vende, não repercute, não vira trending topics do twitter, não garante um milhão de visualizações no you tube, não vira marca registrada, não pode ser licensiado, embalado, vendido, revendido, exportado, internacionalizado e o que vier depois disso. Eu não. Eu não me encaixo nesse McDonald's ambulante onde todo mundo passa a maior parte do tempo posando para fotografias digitais que irão se acumular em alguma parte do HD de notebooks que só servem para estimular o dono ao consumismo desenfreado e brutal enquanto milhares de pessoas morrem diariamente de fome, sem empregos, fodidas e mal pagas, verdadeiros rebotalhos da sociedade contemporânea. E ainda tem quem defenda esse mundo, essa seara sem sentido, esse festival de toma lá, dá cá, essa mania interminável de achar o próximo um merda e a si próprio um gênio, um lugar onde todos insultam todos porque o mundo precisa ser uma guerra declarada, pois assim se ganha mais dinheiro e mais rápido. E se você me acompanhou nesse desabafo até aqui você também não tem razão nesse país. Quem tem razão nesse país não ouve o desabafo de ninguém, só quer que os outros o ouçam e nada mais. Eles precisam ser o protagonista da história por toda a eternidade, são os profetas da pós-modernidade, os psicopatas do bem (porque acredite: nesse país, isso existe!), os vaselinas que deram certo, os cuzões de grife, os que pegam as modelos da Victoria's Secret nas horas vagas e ganham papéis em filmes hollywoodianos do Michael Bay e do James Cameron, os caretas por convicção, que não acreditam que a água do mundo está acabando, tudo não passa de uma intriga da oposição e a oposição vive de intrigar os outros porque não tem a sorte deles. Infelizmente. Não vai ser dessa vez que você vai se dar bem nessa história. Mais uma vez você vai ser o cara que só leva porrada, não tem direito a nada e só serve para pagar as contas e se reclamar ainda recebe um convite via e-mail para abandonar o país naquela linha Brasil: ame-o ou deixe-o e você vai ficar na dúvida se ir embora, no final das contas, não é uma opção interessante, tendo em vista o seu leque de opções precárias e terríveis. E é desse sentimento de perdição, de aturdimento, que nascerá toda a sua raiva que ficou guardada dentro de você por meses, anos, décadas, por tempo indeterminado, até que você não aguentou mais e pôs tudo pra fora e por colocar tudo para fora lhe confundiram com algum terrorista desses que estão na moda atualmente e você foi preso, espancado, deportado e tchau! É o que sobrou para você, meu amigo. É o que sobrou para nós dois. Se não gostou, é melhor aprender as regras básicas para se tornar alguém útil nesse país. Encaixe-se naquele quadro lá do início do texto o mais rápido possível, o quanto antes. Antes que o país te engula e regurgite só para ter o prazer de te engolir de novo. Ou isso ou... Já sabe!!!


Biografia:
Crítico cultural, morador da Leopoldina, amante do cinema, da literatura, do teatro e da música e sempre cheio de novas ideias.
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