Década de 90. Domingo. Emissora: TV Bandeirantes. A dupla Silvio Luiz e Sílvio Lancelotti entravam em cena para mais uma transmissão do Campeonato Italiano de Futebol. O primeiro já trazia seus bordões tradicionais para o jogo enquanto o segundo comentava e passava receitas de culinária durante a partida. Silvio Luiz conseguia prender o(a) telespectador(a) na tela durante os 90 minutos, acréscimos e pós-jogo. Quem não gostasse de futebol e visse as narrações de Silvio Luiz na telinha começavam a torcer. Ele conseguia transformar um jogo de clubes rebaixados em espetáculo diferenciado.
No meu caso foi Silvio Luiz que deu estímulo para que passasse a gostar de futebol especialmente Campeonato Italiano. Numa época que os clubes eram bem montados com excelentes craques, não eram um ou dois e sim a equipe inteira, Silvio Luiz soltava seus bordões, algumas vezes eram ironias pelo péssimo futebol apresentado ou falta de qualidade nas finalizações, outros jogos melhores ele mostrava sua genialidade ao lado do outro gênio. Não será absurdo da minha parte dizer que Silvio Luiz e Sílvio Lancellotti eram Pelé e Garrincha na melhor transmissão de futebol da televisão em nosso país em todos os tempos. Algo só comparado a Luciano do Valle.
Pesquisador dos confrontos e equipes, um estudioso antes das partidas, eram verdadeiras aulas de História, Futebol e Culinária que saíam durante os jogos. Silvio Luiz e seu xará vinham munidos de dados e informações, deixando qualquer torcedor(a) de futebol na vontade de comprar algum almanaque e confirmar se aquilo tudo era verdade tamanha a precisão. Silvio Luiz acabou criando um novo nome para o derby entre Lazio e Roma: o Clássico do Papa! Genial! Ele ressaltava muito bem suas informações. No clássico entre Genoa e Sampdoria, ele chamava de Clássico da Ligúria, destacando a região, trazia comidas típicas do local com Lancellotti e ainda explicava onde ficava e tudo mais! Foi nesta época que ele transformou o campo numa "cozinha" ao lado de Lancellotti. Ouvia-se: "Ele vai mandar lá na cozinha...". Cozinha era a área de defesa do seu time só para ter uma ideia.
Quem sonha com transmissões inteligentes de partidas tem que entrar no YouTube procurando Silvio Luiz juntamente com Sílvio Lancellotti. Não há algo similar no futebol brasileiro nem antes e nem depois. É único. Sílvio Luiz fez adotar minha torcida por 9 ou 10 equipes da Itália em poucos jogos. Hoje, eu sou torcedor da Atalanta de Bérgamo e da Juventus de Turim, simpatizando com outros tantos clubes. A sensação que eu sentia durante aquelas partidas era estar dentro da Itália, numa cantina, aguardando a minha pasta e molho com vinho. Se o seu time estivesse tomando 5x0 no primeiro tempo, Silvio Luiz conseguia te hipnotizar na tela com seus bordões, você ria dos pernas de pau e continuava vendo a partida numa boa. Digo que foi o Silvio Luiz, o cara que ensinou o(a) torcedor(a) a efetivamente levantar da cadeira botando a mão na cabeça e arregalando os olhos!
Silvio Luiz é o último narrador com emoção real do futebol brasileiro em televisão. Ele é um mestre, quem sabe não é o melhor da sua área? É único e não há substituto. Tentar copiá-lo é cair no ridículo. Ele não era para os fracos de coração. Suas narrações davam a dimensão pontual da jogada, não era possível assistir um jogo de Silvio Luiz sem envolver-se, sair xingando por uma falta não marcada ou uma penalidade. Ele criava através das palavras e tonalidade de voz, o cenário, o caldeirão, eternizando craques e pernas de pau ao mesmo tempo! Não perdoava e ironizava mesmo. Se o jogo era ruim, ele alfinetava ao vivo e dane-se a audiência. Interessante que o público não saía da telinha pois riam muito. Marcou época, elevou o futebol internacional ao patamar de espetáculo como final de Copa do Mundo. Fica minha singela homenagem para o mestre Silvio Luiz estendendo ao seu grande colega de trabalho Sílvio Lancellotti. Bons tempos que não voltam mais. Obrigado, mestres!
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