Eu poderia te dizer tudo o que eu pensei, sem espaços, sem deixas e sem essa mania que ambos temos de não dizer nem sob ameaça de morte o que deveras trazemos no peito. Dizer é se expôr, calar é um covarde ato de coragem, estamos separadamente juntos nisso. Eu poderia te dizer tudo o que eu acho de você agora, se eu não te observasse como a alternância de uma montanha russa que pode estar baixa, alta, lenta ou inalcançavelmente veloz. Você finge que não se importa e o que mais faz é se importar. Eu poderia te dizer tudo o que eu observo, mas você se esconde em grossas paredes de pedra transparente, se põe visível e intocável, querendo ser tocado até que o outro estenda o dedo e você recue. Eu poderia te confessar que nem toda vez passa despercebido, porém é um pouco tedioso te entender limitando-se ao que se propõe a ser. Equivocado, preferiu ser mais um na multidão. Mais um na multidão é pouco, só quem aceita o desafio de ir além do óbvio ganha o prêmio de ‘verdadeiramente interessante’. Eu poderia dizer que eu voltaria, entretanto eu ando pra frente e moro nos recomeços. Nem todo mundo sabe recomeçar. Eu poderia dizer que eu sinto muito por tudo, porém aos trancos e barrancos fui ensinada pela vida a não me martirizar, pois o que não tem remédio remediado está. Eu te desperto e até quero, mas sentir muito? Eu não sinto.
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