“Não foi nada e acho que nem vai ser”. Encerramos o nosso diálogo com a conclusão dele, quase em tom de desistência, que o meu sentimento não sairia da caixa do peito. Não por ele. Eu me conhecia o suficiente para saber que qualquer esforço que ele fizesse não me tornaria mais propensa a querê-lo. Penso que se eu integrasse o grupo das pedantes do século XXI, que escolhe homem por bolso cheio, com certeza tudo na minha vida seria mais fácil, só que eu nunca tive preço, tenho valores… Valores que fazem o norte dos meus relacionamentos ser meu coração. Se o alarme do peito não grita, nem o maior dos agrados me faz seguir. Mas coração é guia burro, não tem consciência, quando o terreno é certo ele rejeita. Meu coração faz eu me sentir mal por saber que quando algo tem tudo pra ser perfeito ele não contribui, só quer se doar para situações em que as chances máximas são de dar errado e se deixa levar feito criança que está num parque de diversões pela primeira vez na vida. Aquele homem que me agrada, que me diz coisas bonitas, que tenta me ganhar e o máximo que tem conseguido é minha amizade - tão descompromissada e sem segundas ou terceiras pretensões - a cada mimo joga na minha cara o quanto eu sou ruim, fechada, cheia de gostos, complicada e ainda vivo tendo a ousadia de dramatizar e me vitimizar quando as coisas pra mim não funcionam, ou pelo menos não do meu jeito. Desistir de mim talvez seja a escolha mais sábia que ele fará - até nisso ele consegue ser melhor que eu. Para coração congelado o remédio é calor e na junção dos meus quatro elementos aquele cara nunca foi fogo.
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