Eu não te descreveria mais, era o meu acordo comigo, era o meu acordo mental contigo. Mas como é possível desprezar a memória do presente? A minha consciência te deixaria com o sossego que você quer e não tem. Só que a minha consciência nem sempre é minha amiga. É possível que a gente não se encaixe mais, mas a gente se encaixa. Vivemos uma co-participação sem escolha, independente do rumo que estamos seguindo, os bons momentos secretos vividos garantem isso. Tem coisa que sufocamos pra não gritar e acaba vazando, eu te puxo sem querer ao passo que você, de forma inútil, se repele. Você se mostra, largou mão do indiferente. Quantas vezes você negaria que nós nos percebemos igual? A gente se evita aos olhos, mas os sorrisos são cúmplices nos momentos em que, sem pesares, permitimos que eles saiam com naturalidade. Nós somos sem estar, por uma questão de gosto, verdade no peito e loucura existencial, que não têm nome, variam de intensidade, mas sobrevivem contrariando os nossos comandos. Nós, seguros de si e inseguros do mundo. Com certeza de tudo, menos do que se passa na cabeça um do outro e dos outros, mesmo porque talvez nem seja interessante, mesmo porque talvez não se passe nada. Pra gente, não saber sempre foi o melhor. A graça da incerteza nos move, aproxima e afasta. E entre os metros e quilômetros, alguma coisa não te permite a negação - e nem a mim - eu sou a tua semelhança, eu me vejo em você, nos vemos. Somos o resto bonito de alguma cumplicidade sem volta e voltando.
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