Texto de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.
"Será seu nome para sempre" (Salmo 72.17)
Nenhuma pessoa aqui presente necessita que se lhe diga que este é o nome de Jesus Cristo, que será para sempre. Os homens têm afirmado acerca de muitas de suas obras: "permanecerão para sempre", porém, quanto se têm iludido. Quando construíram, depois do dilúvio, a torre de Babel, disseram: permanecerá para sempre". Porém Deus confundiu a língua deles e não puderam terminá-la.
As coisas mais estáveis têm se desvanecido como sombras e bolhas numa hora, e têm sido destruídas prontamente pelo mandado de Deus. Onde está Nínive, e onde está Babilônia? Onde estão as cidades da Pérsia? Onde estão os lugares altos de Edom? Onde está Moabe e onde estão os príncipes de Amom? Onde estão os templos dos heróis da Grécia? Onde estão os milhões que passaram pelas portas de Tebas? Onde estão os vastos exércitos dos imperadores romanos? Acaso não desapareceram?
O homem chama a sua obra de eterna mas Deus a chama de passageira. O homem afirma que constrói suas obras para a eternidade. Deus as sopra num instante, e onde estão? Elas se evaporam e passam e partem para sempre.
É muito reconfortante então descobrir que há uma coisa que irá permanecer para sempre. E espero poder falar hoje desse algo, se Deus me capacitar a pregar a vocês e lhes der a capacidade de escutar. "Será seu nome para sempre". Em primeiro lugar, a religião santificada pelo Seu nome permanecerá para sempre, em segundo lugar a honra do Seu nome permanecerá para sempre, e em terceiro lugar, o poder de Seu nome que salva e que consola, permanecerá para sempre.
I. Primeiro, a religião do nome de Jesus irá permanecer para sempre.
Quando os impostores forjarem os seus enganos, e abrigarem a esperança de que talvez, numa época distante, poderão submeter o mundo diante deles, e se conseguem reunir ao redor de si uns poucos seguidores, oferecendo incenso no santuário deles então sorriem dizendo: "minha religião brilhará mais do que as estrelas e durará toda uma eternidade". Porém quão equivocados estão!
Quantos falsos sistemas têm aparecido e têm se desvanecido! Alguns de nós têm visto seitas que têm crescido numa só noite como a abobreira de Jonas, e que desapareceram com a mesma rapidez com que surgiram.
Posso dizer que isto é especialmente aplicável aos sistemas de infidelidade. Como tem mudado nos últimos cento e cinquenta anos o poder jactancioso da razão! Tem construído algo, e no dia seguinte tem alterado sua própria obra, tem demolido seu próprio castelo, e tem construído outro, e um terceiro noutro dia.
Bem antes que um só cabelo de minha cabeça se torne grisalho, o último propugnador do secularismo se terá ido, e antes que muitos de nós completemos cinquenta anos, uma nova infidelidade terá aparecido, e a quem pergunta: "como estarão os santos?" podemos perguntar: "onde estarão vocês?", e eles responderão: "teremos mudado os nossos nomes". Têm mudado os seus nomes, têm vestido uma nova forma de mal, porém sua natureza permanecerá a mesma, opondo-se a Cristo e esforçando-se para blasfemar Suas verdades.
De todos estes sistemas de religião, ou de irreligião pode-se dizer que se evaporam, e que murcham como a flor, que são fugazes como o meteoro, e que são frágeis e irreais como o vapor, porém da religião de Cristo se dirá: "Seu nome será para sempre".
Quanto ao nome de Jesus que é para sempre, mesmo quando tentaram apagá-lo, com o martírio dos que levavam este nome, eles testemunharam com o seu próprio sangue sobre a eternidade do nome que lhes garante uma vida eterna depois desta vida, e não se apegaram portanto ao que é passageiro, por terem neles esta esperança do que é para sempre.ì
Que seria de nós se perdêssemos o evangelho? Quanto a mim não teria nenhum desejo de estar aqui sem o meu Senhor, e se o Evangelho não fosse verdadeiro, eu bendiria a Deus e me aniquilaria neste instante, pois não me importaria viver se vocês pudessem destruir o nome de Jesus Cristo. Em que se converteria a civilização se pudessem eliminar o cristianismo? Onde estaria a esperança da paz perpétua? Onde as escolas dominicais? Onde estariam todas suas sociedades? Onde qualquer coisa que melhore a condição do homem, reforme sua conduta e moralize seu caráter? Onde?
Deixem que eu responda? Onde? Tudo isso desapareceria e não ficaria nenhum rastro disso. E onde homem estaria a tua esperança do céu? Onde o conhecimento da eternidade? Onde estaria a ajuda para atravessar o rio da morte? Onde um céu? Onde a bênção eterna? Tudo isso desapareceria se Seu nome não permanecesse para sempre. Porém estamos seguros disso, nós o sabemos, e afirmamos,e declaramos, cremos e sempre o faremos, que: "Será seu nome para sempre".
II. Em segundo lugar, tanto como Sua religião, a honra do Seu nome permanecerá para sempre.
Os perturbadores têm dito que devemos esquecer de honrar a Cristo, e que um dia, nenhum homem o reconhecerá. Agora, nós afirmamos outra vez com as palavras do meu texto: "Será seu nome para sempre", dando-lhe a honra devida. Sim, eu lhes direi quanto tempo irá permanecer. Enquanto houver nesta terra um pecador que tenha sido salvo pela graça Onipotente, o nome de Cristo permanecerá, enquanto houver uma Maria pronta para lavar Seus pés com lágrimas, e secá-los com os cabelos de sua cabeça, enquanto respirar o maior dos pecadores que se têm lavado na fonte aberta que lava o pecado e a impureza, enquanto existir um cristão que tenha posto sua fé em Jesus, e que tenha encontrado nEle seu deleite, seu refúgio, seu albergue, seu escudo, sua canção, e sua alegria, não há nenhum temor de que o nome de Jesus deixe de ser ouvido.
Porém, se todas estas coisas desaparecessem, se nós cessássemos de cantar em Seu louvor, seria esquecido por acaso o nome de Jesus Cristo? Não, as pedras cantariam, as colinas formariam uma orquestra, as montanhas saltariam como carneiros, e os cervos como ovelhas, acaso não é Ele seu Criador? E se estes lábios e os lábios de todos os mortais ficassem mudos num instante, há suficientes criaturas além de nós neste vasto universo. Se assim ocorresse o sol dirigiria o coro, a lua tocaria sua harpa de prata, e cantaria acompanhando sua melodia; as estrelas dançariam em suas rotas preestabelecidas, as profundidades sem limites do universo seriam o lugar de muitas canções e tudo estaria numa grande exclamação: "Tu és o glorioso Filho de Deus, grandiosa é Tua majestade e infinito o Teu poder."
III. E também permanecerá o poder do Seu nome. Queres saber no que consiste? Deixe-me dizê-lo. Vês aquele ladrão ali na cruz? Vês os demônios ao pé dela, com suas bocas abertas, iludindo-se com o doce pensamento que outra alma lhes dará alimento no inferno. Vês o pássaro da morte batendo suas asas sobre a cabeça desse pobre infeliz; a vingança passa e o sela com o selo de sua propriedade, e no profundo do seu peito está escrito: "um pecador condenado", e em sua face há um suor pegajoso, colocado ali por sua agonia e pela morte. Contempla o seu coração e verás que está sujo com a crosta de anos de pecado, o limo da lascívia permanece no seu interior, e em densas trevas, seu coração está totalmente condenado ao inferno.
Agora ele está morrendo. Um pé parece estar no inferno, e o outro o mantém em vida, sendo sustentado por um cravo. Mas há um poder no olhar de Jesus e o ladrão o percebeu e pediu que Ele se lembrasse dele quando entrasse no Seu reino. E Jesus lhe fez a grande promessa e resgatou a sua vida. Vês esse ladrão? Onde está o suor pegajoso? Ainda está ali. Mas onde está a horrível angústia desse homem? Já não está ali. Há um claro sorriso em seus lábios. Os demônios do inferno, onde estão? Já não há nenhum, mas há um luminoso serafim presente com suas asas estendidas, e suas mãos preparadas para arrebatar essa alma, convertida agora numa joia preciosa, e levá-la ao alto, ao palácio do grandioso Rei.
Contempla o seu coração: está branco de pureza. Contempla seu peito e já não lerás a palavra "condenado", senão "justificado". Contempla o livro da vida: seu nome está gravado ali. Contempla o coração de Jesus: ali, numa das pedras preciosas, Ele carrega o nome desse pobre ladrão. Sim, ainda mais uma vez contempla e vês a esse ser brilhante no meio dos glorificados, mais luminoso do que o sol, e mais claro do que a lua? Esse é o ladrão! Esse é o poder de Jesus; e esse poder permanecerá para sempre. Quem salvou o ladrão, pode salvar o último homem que viver sobre a terra, porque há uma fonte que jorra sangue, procedente das veias de Emanuel. Os pecadores que se banham neste sangue, perdem todas as manchas de sua culpa. O ladrão agonizante se alegrou ao ver essa fonte em seu dia, e ali eu também, tão vil como ele, tenho lavado todos os meus pecados. Amado Cordeiro agonizante! Esse precioso sangue nunca perderá seu poder, até que toda a igreja redimida de Deus seja salva para não mais pecar.
Seu nome poderoso permanecerá para sempre. E esse não é todo o poder do Seu nome. Permitam-me levá-los a outra cena, e vocês serão testemunhas de algo um pouco diferente. Ali, nesse leito de morte, jaz um santo, não há nenhuma tristeza em seu rosto, nem há terror em sua expressão. Sorri frágil porém placidamente, geme, talvez, porém sem dúvida canta. Suspira por vezes, porém mais frequentemente prorrompe em exclamações. Coloque-se ao seu lado. "Irmão meu, que te leva a contemplar o rosto da morte com tal gozo?". "Jesus", sussura. Que te leva a estar calmo e tranquilo? "O nome de Jesus." Saiba que ele esqueceu tudo. Fazem-lhe uma pergunta e não pode respondê-la. Não pode te entender, mas mesmo assim sorri. Sua esposa chega e lhe pergunta: "Sabes meu nome?". Ele responde? "Não!". Seu amigo mais querido lhe pede para recordar a intimidade que haviam tido. "Não te conheço", ele diz Mas se lhe sussurras ao ouvido: "Conheces o nome de Jesus?" Seus olhos emitem glória, seu rosto reflete o céu, e seus lábios recitam sonetos, e seu coração explode de eternidade, pois ele ouve o nome de Jesus e esse nome permanecerá para sempre.
Teria centenas de coisas especiais que gostaria de lhes falar, mas minha voz me falta, assim é melhor que me detenha. Não requeiram nada mais de mim hoje, vocês estão vendo a dificuldade com que falo cada palavra. Espero que Deus as aplique em seus corações! Não estou particularmente ansioso em relação a meu próprio nome, se irá durar para sempre ou não, que esteja registrado no livro de meu Senhor. Quando perguntaram a George Whitfield se fundaria uma denominação, disse: Não, nosso irmão Wesley pode fazer como lhe agrade, porém deixem que meu nome desapareça e que o nome de Cristo permaneça para sempre.". Amém a isso! Que meu nome desapareça, porém que o nome de Cristo permaneça para sempre.
Ficarei contente se me esquecerem quando tiverem partido. A metade destes rostos, não voltarei a ver outra vez, me atrevo a dizer; talvez não serão persuadidos jamais a entrar dentro das paredes de uma igreja; talvez considerarão que não é suficientemente respeitável assistir a uma reunião Batista. Bem, eu não digo que nós sejamos gente respeitável, não afirmamos que o sejamos, porém afirmamos sim o seguinte: que amamos nossas Bíblias, e se não é respeitável fazer isso, não nos importa não ser estimados. Porém nós cremos que sejamos dignos de respeito depois de tudo, porque apesar de sermos uma seita diminuta sem reputação comparado com o cristianismo que há no mundo, e bem menores do que a Igreja Anglicana da Inglaterra, no que se refere a números. Contudo, isto não é um tema que me preocupe; pois lhes digo do nome dos batistas: que pereça, porém que o nome de Cristo permaneça para sempre.
Espero com prazer o dia quando não haverá um só batista com vida. E vocês perguntarão: “Por que?” Pois quando todo mundo reconhecer o batismo por imersão, nós estaremos imersos em todas as denominações, e nossa denominação terá desaparecido. Porque uma vez que chegarmos à preeminência já não seremos mais uma denominação. Um homem pode pertencer à Igreja da Inglaterra, aos metodistas, aos independentes, e contudo, ser um batista. Assim digo que o nome batista desapareça, porém que o nome de Cristo permaneça para sempre.
Sim, e devido a meu amor pela Inglaterra, eu não creio que perecerá jamais. Não, Inglaterra! Tu nunca irás perecer pois a bandeira da velha Inglaterra está cravada no mastro pelas orações dos crentes, pelos esforços da Escola Dominical, e pelos seus homens piedosos. Porém, ainda assim digo que deixem que o nome da Inglaterra pereça, que se dissolva numa grande irmandade, e que não tenhamos nenhuma Inglaterra, nem nenhuma França, nem Rússia, nem Turquia, porém tenhamos uma cristandade; e eu digo de todo coração, desde o profundo de minha alma, que pereçam as nações e as distinções nacionais, porém que o nome de Cristo permaneça para sempre.
Talvez somente haja uma coisa na terra que amo mais do que o que acabo de mencionar por último, e essa é a pura doutrina do calvinismo não adulterada. Porém se isso contiver erro, se houver qualquer coisa que seja falsa, eu sou o primeiro a dizer, que isso pereça também, e que o nome de Cristo permaneça para sempre. Jesus! Jesus! Jesus! Que seja coroado Rei de todos! Não me ouvirão dizer nenhuma outra cousa. Estas são minhas últimas palavras no Exeter Hall, no momento. Jesus! Jesus! Jesus! Que seja coroado Rei de todos!
Este texto é uma redução e adaptação do sermão pregado por Spurgeon em maio de 1855, quando teria apenas vinte anos de idade. Muitos anos depois a esposa de Spurgeon se recordava deste sermão, e descreveu do modo seguinte o seu final, quando a voz de Spurgeon quase estava se extinguindo por causa do esgotamento físico:
"Recordo, com estranha vividez depois de tanto tempo, a noite do domingo em que pregou o texto "Será seu Nome para sempre". Era um tema no qual se regozijava extremamente, seu principal deleite era exaltar seu glorioso Salvador, e naquele discurso parecia estar vertendo sua própria alma e vida em homenagem e adoração diante do Seu misericordioso Rei. E eu creio que teria deveras morrido na frente de toda aquela gente. No final do sermão fez um poderoso esforço para recuperar a voz, porém a pronúncia quase lhe faltava, e somente pôde se ouvir com acento entrecortado a patética conclusão: Pereça meu nome, porém seja para sempre o Nome de Cristo! Jesus! Jesus! Jesus! Coroado Senhor de todos. Não me ouvireis dizer nada mais. Estas são minhas últimas palavras no Exeter Hall neste dia. Jesus! Jesus! Jesus! Coroado Senhor de todos! E então desabou, quase desmaiado, na cadeira que estava atrás de si."
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