Fazendo uma reflexão do meu passado, lembro-me que fui uma criança muito tímida, sempre na minha; a primeira a entrar na sala e a última a sair, procurando sempre chamar o mínimo de atenção da turma, do professor e dos zoadores de plantão. Rotina seguida nos cinco anos de faculdade, a autoimagem que eu tinha, era de uma criança, e depois, da pessoa mais esquisita da turma. Porém, fazendo uma análise e com os vinte e poucos anos passados, percebo que podia tratar-se de excesso de inocência, sensibilidade, sobra de sentimentos; capacidade de enxergar bondade nas pessoas, cuja essas, em alguns momentos me fizeram sofrer e crescer.
Cresci ouvindo meu avô dizer: - ensina essa menina a usar a mão direita, não é bom ser canhoto e a minha mãe dizer que acha lindo me ver escrever, apesar de não ter paciência de me ver lavar as louças. Com o tempo descobri que o canhoto usa o lado direito do cérebro, que está associado à criatividade; por isso defende-se que os canhotos desenrolam melhor atividades criativas, talvez, aí esteja à explicação para o meu paradoxo de timidez crônica com a facilidade em realizar atividades que me davam liberdade de escrever e discursar.
Recordo-me até hoje de uma peça de teatro que escrevi no ensino fundamental, uma crônica no ensino médio e um resumo crítico de artigo que me rederam ótimos elogios. Mas nunca vi isso como algo incomum, genial, não sei... Nunca enxerguei em mim inteligência, no máximo, uma pessoa esforçada. Confesso que é uma opinião compartilhada por quem convivia comigo, com exceção do meu grupinho de amigos, conquistados no pre-vestibular e universidade, são meus amigos até hoje e sempre dizem que admiram minha coragem.
Lembro-me de um acontecimento no pré-vestibular, quando voltei na escola após o resultado e um colega de classe me puxou, típico aluno fodão da sala, e disse: - moça, você passou em dois vestibulares, quem te via caladinha na sala não imaginava [...], fiquei sem saber se interpretava como um elogio, um parabéns, ou como: - nossa, eu não coloca fé em você; mas, como boa leonina que sou, interpretei como um elogio e saí feliz por que o fodão da sala depois de um ano de convívio falou comigo e me fez um elogio. - Sim, eu sei. Não foi lá esse elogio, mas posso interpretar assim.
E dessa forma, segui em frente com esse meu carma: conciliar a timidez crônica, vários complexos, descobertas do mundo universitário, distância da família, choros sem fim e todo esse desejo de libertar a criatividade que existe em mim, tão incubado, até hoje, pela necessidade de me “fazer gente”, de ter uma profissão, ter estabilidade e várias outras cobranças que me encurvam a coluna e prendem meu riso frouxo.
Com o passar dos meus vinte e poucos anos descobri o tanto que gosto de arte, de histórias, de viagens, de pessoas e me pergunto diariamente: qual caminho a seguir pra ser feliz? Será que estou de fato no caminho certo? Será que estou indo em busca da minha felicidade? Ou só sorrio para todos por conta da minha simpatia?
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