Queria escrever uma poesia limpa e livre
mas a tristeza sob as unhas e sob os olhos o cansaço
mostram que nem as palavras escapam do que insiste
em nos incomodar atrapalhando nossos braços
que buscam o melhor ângulo para encontrar o melhor traço...

Penso no amor e vejo a criança sendo punida pelo que não cometeu
penso na paz e vejo o corpo estendido sob a marquise - abandonado
penso nos sonhos que tive quando era criança e sei lá quem sou eu
que ando por esse mundo pisando em espinhos com muito cuidado...

Queria deitar sobre o papel o rio que nasceu quando nasci
mas vejo que barreiras de homens estranhos querem impedir
que eu corra até o mar de amor que vive depois da dor
que tantos sentem e que poderiam ao menos supor
que bastaria um esforço para superar a ignorância
que vendem em livros de escola como inteligência
e tantas armas esculpidas como ícones da flor...

Queria escrever a liberdade em versos que pudessem sentir
entrando pelos olhos como alicates cortando cercas e arames
que impedem que vejamos os lírios brancos que tentam fugir
da fuligem que o homem sopra como vento em velas e cordames
mas mais que isso queria por em teu prato o pão da alegria
que juntos deveríamos comer sem nos afastarmos todos os dias...

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