Pesquisava sobre ética interdisciplinar para incluir a ciência nas deficiências humanas, frequente tema de conversas sobre Bioética e Espiritualidade, depois de assistir o filme “Como eu era antes de você” cujos argumentos indicam a morte do protagonista, em vez de utilizar-se de um serviço que o ajude a viver.
O filme retrata a crueza sutil de até quanto uma deficiência pode esgotar as forças de um ser humano, quando naquela incompletude uma jovem é contratada como cuidadora, se esforça para que seu paciente paralisado depois de um acidente recupere o prazer pela vida, que quer por fim.
“Como eu era antes de você”, também gerou protestos por ter sido inspirado no livro da história de um jovem que planejou sua própria morte por Eutanásia, um tema influenciado por crenças religiosas e muito além da ação médica para abreviar a vida, com o conhecimento da família,
A repercussão do filme desagradou a alguns pela escolha de um ator sem deficiência como protagonista, para criticar por não atender os critérios que resultaram no bom trabalho do profissional, porém ninguém justificou se isso é errado ou ofensivo.
É de perguntar se para interpretar o personagem do filme, um ator teria que estar na condição de tetraplégico ou se o personagem fosse cego ou surdo teria que furar os olhos e os ouvidos. Cada caso é um caso e o assunto não ganha força para se alongar.
“Como eu era antes de você”, não incentiva ninguém a se matar, apenas mostra que existem pessoas que apesar de todo incentivo que recebem, perdem a vontade de viver por razões inexplicáveis, assim como nem todo romance tem final feliz. Alguém reclamou por Romeu e Julieta terem se suicidado?
Quem viu “Meu pé esquerdo”, onde o personagem nasce com deficiência física e paralisia cerebral que lhe tirou todos os movimentos do corpo? Com o pé esquerdo e único membro que ele domina, torna-se escritor e artista plástico. Foi capaz de se auto-sustentar e sustentar a família.
Além do descrédito social, ele superou obstáculos como o desrespeito do próprio pai que o julgava um estorvo.
Sua mãe com muito amor e esperança, lhe motivou na busca pela superação de seus limites, pois confiava que ele poderia encontrar soluções pessoais para as suas dificuldades, incluindo-o com seus 13 irmãos o quanto possível nas atividades rotineiras.
O filme foi classificado pelo drama vivido do personagem e o mundo reconheceu o talento inquestionável do trabalho de Daniel Day Lewis, que ganhou o Oscar de Melhor Ator pela interpretação.
Com pouca publicidade, porém sempre velada, sabemos que a Eutanásia pode acontecer todos os dias na vida real, mas, deve ficar claro que filme não incentiva ninguém e menos ainda credencia uma pessoa com deficiência a autorizá-la.
Ao contrário, vale perguntar o que aconteceria com milhões de pessoas ao se depararem com a existência de livros e filmes de histórias, que sugerem praticar ato de violência contra a própria vida, quando retratam este tipo de drama em profundidade?
Um filósofo perguntaria do que gostaríamos de morrer? De depressão ou de culpa? Qual você escolheria, porque entre as duas está a forma de morrer.
Culpa é um afeto decorrente da vida moral e da consciência de que fizemos sofrer alguém que não merecia.
Penso que as ideias seguem as emoções, se acomodam e fazem o que podem para sobreviver neste mundo frequentemente avesso a sentimentos.
Cada um sabe da sua realidade. Não podemos julgar ninguém que comete suicídio. É do livre arbítrio de cada um agir sobre o mal que lhe aflige e pior, se perguntar como ser uma pessoa com deficiência em uma sociedade que mais visa à estética?
Ninguém se imagina ser completamente feliz e resiliente sendo alguém com uma deficiência de qualquer matiz.
O mundo assistiu a espantosa história de um autista no filme Rain Man. A magnifica interpretação do personagem autista proporcionou a Dustin Hoffman ganhar o Oscar e o Globo de Ouro de melhor ator em 1988.
O filme foi inspirado na biografia de um autista diagnosticado com a Síndrome de Savant, condição que pode proporcionar tanto habilidades extraordinárias quanto graves limitações é um mistério que ainda fascina e intriga a Ciência.
No filme, durante uma viagem cheia de pequenos imprevistos, os dois personagens, embora levando em conta as dificuldades com o autismo de um deles, muito divergiram, porém se compreenderam até entender o significado de serem irmãos.
O espectro autista pode ser considerado como um dos grandes geradores de diversidade cognitiva da humanidade. Infelizmente o romantismo hollywoodiano de Rain Man não é regra. As pessoas que têm autismo podem parecer incrivelmente inteligentes, porém estranhas nas interações sociais. A maioria delas encontra-se em algum lugar entre esses dois extremos.
Devemos chamar atenção sobre a carência de filmes como esses, onde os atores e atrizes como protagonistas principais são as pessoas com deficiência desvelando suas angústias, que por si só representam os bons exemplos de como viver uma vida, mesmo que limitada, na sua condição física ou mental, plena.
Devemos entender que o mundo ideal no qual gostaríamos de viver fica por conta da utopia. Se assim fosse o personagem de “Como eu era antes de você”, não morreria no final e todos nós gostaríamos de ser um “rain man” com extraordinária memória fotográfica além de pautas geniais em matemática e outras matérias.
Ambos, “Como eu era antes de você” e “Rain Man” e alguns outros filmes sobre pessoas com deficiência, aqui relacionados, só mostram o lado da moeda que não é coisa boa. Nosso desejo seria que o protagonista do primeiro vencesse a depressão e substituísse a Eutanásia por uma feliz existência, e o segundo continuasse buscar sua saída do autismo rumo à vida.
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