Desde quando ainda se falava que nossos filhos, autistas ou não eram “excepcionais”, enfaticamente nas décadas de 70 e 80, e de lá para cá passando por diversas nomenclaturas cheias de boas intenções, mas sem muita funcionalidade, até chegarmos ao final da primeira década deste milênio com eles ganhando a leitura gloriosa de “pessoa com deficiência”, de acordo com nova portaria do governo.
Naquelas décadas com grande impulso, estava nascendo nos Estados Unidos e na Europa à educação inclusiva, começando também a entrar em discussões por aqui.
Como em nosso país quase tudo se copia, e que em termos educacionais nossos modelos sempre tiveram sotaques estrangeiros, o novo conceito caiu por aqui como uma luva, até por existir oferta de estabelecimentos de educação especial, e como embrionariamente já se ensaiasse conviver com a educação regular, não poderíamos ser indiferentes deixando o bonde da moda estrangeira passar, sem embarcar.
Atualmente nos colégios norte-americanos e europeus, todos os colégios de educação regular, oferecem apoio à educação inclusiva, aos alunos com necessidades especiais, sendo que na Espanha e na França, além dos professores especialistas, os alunos têm mais um, que é responsável pela sala de aula, denominado de tutor.
Enquanto isso, por aqui, nós ficamos na esperança de que a propaganda enganosa vigente do sistema de educação nacional se torne realidade.
Lá os métodos podem ser alterados, mas os objetivos do currículo não. Aqui, quando se fala em implantar educação inclusiva em qualquer estabelecimento de ensino regular, além da escola ser modificada em sua estrutura, a organização do currículo e a avaliação deve ficar de acordo com seus gestores, que se utilizando de desculpas esfarrapadas pensam que podem evitar atitudes discriminatórias, por desconhecerem que isso acontece por falta de educação, familiar.
A criança com necessidades especiais, e por essa titulação nós pais somos responsáveis, porque temos o hábito de ver nossos filhos, autistas, como crianças e não como pessoas, mantendo-os eternamente púberes, quando é colocada junto com as outras normais, criam-se, ou não, atividades específicas para elas, enquanto que a educação inclusiva volta-se para todos os alunos, centrando-se mais em objetivos comuns e de currículo flexível, mesmo havendo divergências, pois é frequente entre seus defensores o encontro de quem queira a continuidade da segregação.
Nada a ver uma coisa com a outra, mas os defensores do atraso, em face das políticas equivocadas, e o nosso sistema político partidário vigente está infestado deles, além de não saberem o que é ter filho deficiente, são informados que eles são crianças excluídas da educação por estatísticas, que eles mesmos criaram.
Para eles o maior drama é transferir alunos com necessidades educativas especiais das escolas especializadas, e das classes especiais para as classes regulares, sem generalizar, é claro, porque não sabem destacar a diferença entre eles.
Na Europa e nos Estados Unidos, a inclusão de crianças com dificuldades em salas de aulas regulares aumentou e nas instituições especializadas diminuiu, porque tanto na formação como na implantação, os professores atualizam seus currículos, para que estejam bem preparados no momento de atender a demanda, coisa que por aqui não pode acontecer porque preferem o comodismo ficando à margem da atualização.
Mesmo que ficassem resolvidas essas questões, a educação inclusiva antes de prosperar ainda terá muita dificuldade, pois, em nosso sistema, a educação segregada é mais frequente porque é inconveniente trabalhar programas educativos integrados.
As crianças normais quando ficam entre crianças deficientes com atrasos de intelectualidade, não são prejudicadas por esta integração, ou pela convivência com os estereótipos inapropriados delas, ou ainda pela redução no ritmo de desenvolvimento, não existindo registro de efeitos adversos, obtendo vantagens recíprocas quando aprendem em conjunto.
Já existem pesquisas mostrando que alunos sem dificuldades de aprendizagem também têm vantagens no ensino inclusivo, porque o convívio deles com aquelas crianças aumenta a autoestima, amplia a competência social e faz com que se aprenda a respeitar as diferenças e os estigmas favorecendo sua maturidade.
Na Constituição Federal há um artigo favorável à educação inclusiva, que não é obedecido, pois os nossos educadores, geralmente políticos de plantão, preferem posar de signatários da Declaração de Salamanca e protocolos internacionais para deficientes aparecendo nas propagandas humanitárias, onde vicejam mídias ficcionistas mostrando o crescimento do número de alunos em salas de aulas regulares, que não existem.
Criança deficiente não se importa que os professores inventem modas ou percam tempo para explicar alguma coisa que ela demore a entender, porque assim têm chances de aprender mais e melhor, e ainda... Os alunos eficientes apreciam auxiliar o coleguinha com dificuldades porque entre eles quem fala é a pureza da alma.
Os obstáculos para a aplicação da educação inclusiva são os mesmos, em qualquer idioma, mas nada pode ser pior do que aqueles que deixam de ser percebidos pela Psicologia Social, por atitudes alguns mandatários do meio educacional, contra as pessoas deficientes, autistas ou não, que dificultam sua implantação e desenvolvimento.
Quem me dera que a educação inclusiva tivesse iniciado por aqui nos anos 70/80 a exemplo dos americanos e europeus, pois fico imaginando meu filho autista, que pouco depende de nós, mesmo não tendo aprendido a ler, saberia cortar sua barba e amarrar o cordão dos seus sapatos, em função da metodologia de convivência escolar com o próximo, e ser incluído como exemplo na história dos deficientes como mais um grão de areia na construção edifício de progresso da humanidade.
Quando se fala em educação inclusiva, costumamos deixar passar despercebida a grandeza do conceito nela implícito, que foi criada para todas as “pessoas com deficiências”, mas que nos dias atuais está ensaiando uma saída honrosa para que o sistema educacional “encaixe”, nossos filhos, pelo menos para manter o seu direito de crescer e a viver com natural autonomia.
De minha parte me vejo obrigado a repetir que nesta salada mista de leis, decretos, portarias, etc, os dirigentes da educação continuam dando mais valor ao condimento do que ao legume.
Quem sabe nossos filhos deficientes, autistas ou não, em mais uma reação dos seus pais, dotados da Síndrome da Paciência, tenham direito a uma vaga na escola inclusiva, por uma questão de bom senso e respeito por seu semelhante, coisa que nossos legisladores insistem em demonstrar que não sabem o que é.
Para Deus, pessoas deficientes são aquelas que estacionam no preconceito e na discriminação...
Nilton Salvador
rosandores@gmail.com
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