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Ficha técnica do livro
Nome: Zagenia
Autor: Caliel Alves
Gênero: Romance
Páginas: 332
Tamanho: 14,8 cm x 21 cm; capa com orelhas
Preço versão impressa: R$ 36,99
Preço versão e-book: R$ 6,99
Sinopse: A OPUS envia o capitão Zambi em uma difícil missão: realizar uma evacuação planetária em Shaya. O planeta está dividido em duas facções, uma quer a guerra contra o império Thugariano, a outra almeja a pacífica evacuação, mesmo que parcial. A missão se torna quase impossível quando um grande terrorista parece atuar no conflito, o temível Máscara Negra.
Sobre o romance
O romance teve como maior inspiração além da space opera a crise política de 1808, que culminou com a vinda da família real portuguesa ao Brasil. Naquela época, o império Francês liderado pelo imperador Napoleão, estava dominando a Europa. Portugal tinha duas opções: combater os bonapartistas ou mudar a Coroa de lugar. Isso aconteceu devido à pressão da Inglaterra e o medo de D. João VI em contrariar o seu parceiro comercial. Os acontecimentos históricos foram utilizados num enfoque moderno. Shaya está exprimida entre duas superpotências, com parcas forças militares e dependente da OPUS, a chance de salvação do planeta é a tripulação da Zagenia.
PRÓLOGO
A janela do prédio emoldurava um quadro da escuridão noturna. Embora fosse necessário só um pouco de sensibilidade para contemplá-la, o homem frente a ela estava alheio a tudo isso. Imerso em seus próprios pensamentos. Tentava extrair do vazio a mesma luz que o Criador retirou do caos.
O concreto das paredes ao fundo lhe transmitiam frio, aliás, tudo ali era frio, o ar, o ambiente, as pessoas. Mas sentia que sua alma estava na mesma temperatura. Por um momento, ele pensou que talvez na sala do major-brigadeiro Vargas as coisas poderiam ser piores. A urgência na voz daquele homem de cinquenta anos foi assustadora, como se toda a metagaláxia fosse desabar. Mas talvez fosse só uma má impressão.
O traje evidenciava um porte militar. Ombros largos, boa altura. Foi convocado a estar ali sem motivos aparentes. Podia escolher entre ir embora e deixar o major-brigadeiro esperando, ou ficar e ter mais uma daquelas conversas que terminavam com você é nossa última esperança ou faça pela sua nação.
Estava agora numa base terrestre da Tropa Galáctica, com típico formato cubista. Havia luz artificial. A quantidade de vidro impressionava. Nunca tinha visto um lugar tão transparente. A luz passava diretamente pelas paredes envidraçadas, iluminando de maneira ofuscante o ambiente. Os arquitetos aproveitaram ao máximo os recursos providos pela natureza.
De repente uma voz o chamou:
— Capitão Zambi.
Zambi se virou velozmente. O movimento revelou um homem negro, de lábios grossos e cabelo pixaim. O homem que devia ser um simples soldado da Tropa Galáctica, não esperava essa reação, e em vez de si manter firme, recuou um instante. O rosto branco cheio de espinhas mostrava sua juventude e falta de experiência.
— Desculpe senhor — e fez uma continência estalando as botas nos calcanhares. — Soldado David se apresentando — o suor escorreu pelo rosto. — O major-brigadeiro Vargas o convida a entrar em sua sala.
David apontou a direção e Zambi o seguiu pelo corredor sem dizer uma palavra. Zambi ouviu o suspiro de alívio de David e se permitiu um sorriso silencioso. Lá fora, de acordo com os cálculos de Zambi, já passava das oito horas da noite.
A não ser pelos guardas e naves em vigília, o clima estava tranquilo na base encravada em volta das vastidões rochosas. Quem estivesse perdido naquele lugar, veria a base como um oásis, mas antes que pudesse chegar sem um bom cartão de visitas, seria atingido pela Infantaria.
David abriu a porta como um mordomo. Ambos entraram e a porta foi fechada. Agora não havia vidro. Na sala do major-brigadeiro Vargas não existia transparência. O capitão já se acostumara com o modo de trabalhar da alta hierarquia da Tropa Galáctica. Nada ali se resumia a dicotomia da verdade ou mentira, tudo era ambíguo, um ou e um é mudava muita coisa numa simples conversa. E dependendo de sua capacidade de discernimento, você se tornava o jogador, ou a peça.
Vargas flutuava a uns dez centímetros do chão, a incrível tecnologia antigravitacional! Mostrava um sorriso com dentes incrivelmente brancos. O rosto era manchado, olhos azuis e cabelos pretos com mechas cinzentas, a tintura era de má qualidade.
O soldado David e Zambi fizeram uma continência, David falou:
— Permissão para descansar senhor? — Mais uma vez suas botas estalaram.
— Oh, não meu rapaz, pode ir dormir. Agora falarei a sós com o capitão Zambi.
David saiu. Zambi ficou em pé com olhar indagador. Vargas o olhou fixamente. O clima de tensão continuou por um bom tempo, até que Vargas o convidou a sentar.
— Ora, não seja tão sisudo, sente-se.
— Odeio essas cadeiras antigravitacionais.
E apertou um botão no braço esquerdo da cadeira que fez sair quatro pernas do assento. Vargas fez o mesmo como que para agradar. A tecnologia empregada na cadeira servia para que a pessoa pudesse se mover pela sala enquanto estivesse sentado. Zambi a chamava de “um dos comodismos parasitários”.
A sala era bem simples, mas aconchegante. Diferente das outras em que tinha estado, onde o culto a si mesmo imperava, ali havia um quadro da Primeira Guerra Interplanetária. Outra moldura continha o hino da Tropa galáctica. Na mesa uma holotela desligada. A luzinha vermelha em modo de baixa energia piscava irritantemente. Havia uma planta encima da mesa, no canto esquerdo, dava um clima caseiro. Como tinha uma bela flor, mostrava que vinha sendo bem cuidada. Sem motivo aparente aquilo chamou a atenção de Zambi. Talvez porque era a única com vitalidade naquela sala.
— É uma orquídea. Uma planta purifica o ambiente. — Vargas a tocou de leve. — David que a trouxe. É um bom soldado, mas não um que deva estar numa nave...
— Perdão major-brigadeiro Vargas, eu não estou aqui para debater botânica, não é?
Nesse momento o rosto de Vargas se contraiu. O sorriso se apagou, e as palavras saíram num tom grave, mais parecido com um rosnado entre os dentes.
— Esse seu jeito já lhe custou muito.
As palavras ecoaram pela mente de Zambi, que se recostou na cadeira. Apoiou os dois braços. Lançou seu olhar para o chão. Media as palavras antes que saíssem da boca. Voltou seu olhar rijo para Vargas de novo e falou:
— Eu sei, até demais.
Outra vez o silêncio tomou conta da sala. O velho se levantou da sua cadeira pacientemente. Remexeu na gaveta da mesa. Os cigarros estavam embaixo de um bloco de anotações. Ele retirou a caixa. Dedilhou no fundo da mesma o último que estava lá dentro. Não fumava há uns quatro meses. Inclusive para comemorar fizera um clareamento dental. Mas embora tivesse dito há quatro meses que fumara o último, nunca seria o último. Apoiou-se no lado do tampo da mesa, que também servia como tela de toque. Soltou uma longa baforada azulada e disse:
— Então serei direto ao ponto — deu mais uma tragada. — É de conhecimento e nível geral a questão Shaya. Sei que não é sua área de atuação, mas...
— Sim — a palavra trouxe vagas informações. — Mas como o senhor mesmo disse, não é da minha área. Não sei como me relaciono com isso.
— Bem, digamos que a nave que patrulhava aquele sistema, desapareceu misteriosamente — jogou a guimba do cigarro fora.
— Debaixo de um canhão de fótons. — Zambi não havia feito uma pergunta.
— E agora você foi convocado para substituir o posto de Alex.
Zambi levantou-se da cadeira. Nenhuma palavra saiu da sua boca, mas só necessitava um olhar em seu rosto para saber o quanto estava furioso.
— Capitão Zambi, você vai liderar a negociação de evacuação dos habitantes do planeta Shaya com o império Thugariano. E os escoltará até o planeta Refúgio — um par de olhos fuzilava Vargas friamente. — Não me olhe assim, você é o mais indicado, mas não o indiquei. Ordem direta do Conselho de Segurança da OPUS.
— Não gosto disso major-brigadeiro, nem um pouco disso. Conheço os problemas do planeta Shaya como qualquer outro capitão na Tropa Galáctica. A nave do sistema deles virou fumaça e vocês mandam seu herói de guerra para fazer seu trabalho sujo. Uma única nave para evacuar um planeta inteiro? E se eu não conseguir o Conselho de Segurança dirá: Bem nós tentamos, mandamos o capitão Zambi, se ele não conseguiu controlar a situação, foi por incompetência própria.
Vargas sentou-se novamente. Apoiou os cotovelos na mesa. Desejava mais do que nunca um cigarro naquele momento. Entrelaçou às mãos, gesto típico de quem vai falar algo desagradável, porém, necessário.
— O império Thugariano fez exigências...
— E desde quando os thugarianos fazem as exigências? — Ele bateu os punhos na mesa. — Vargas, tem mais alguma coisa ai que eu devia saber? — Vargas não disse nada, mas seus olhos soltaram uma exclamação, SIM!
— Sinto muito por você capitão, mas dessa vez não posso ajudá-lo.
— Vocês da alta hierarquia sentem alguma coisa?
A pergunta tocou nas feridas de Vargas como uma faca. Afundou na cadeira. Não responderia, embora fosse uma boa pergunta. Ele não era mais o Vargas de antigamente, nem o capitão a sua frente o que conhecera no passado. Usara de todo um tom político com Zambi, mas o outro era um político um tanto melhor. Não que ele fosse bom em mentir, mas sabia reconhecer uma como ninguém.
— Dispensado.
Vargas fez um fraco aceno de mão mostrando sua impaciência. O capitão Zambi levantou-se, fez uma continência e saiu sem olhar pra trás, em total silêncio.
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