Janela iluminada
A chuva cara
E meu coração na calçada
O terreno escuro da rua descobre luzes na esperança de quem vai perdendo a mediocridade. O menino vai queimando o rosto no vento gelado da chuva. Vai desejando – mais que o cigarro que acabara – a mão quente que não tem. Garoto apaixonado, maroto no inverno calhado, de sertão farpado e emaranhado pela frigidez da coerência dessa paisagem.
O sinal respeitado: arco-íris vivo na calçada.
O malabarista que anda com tochas sob o chuvisco: uns trocados a mais.
E o pote de ouro tá fácil, na esquina. Nas mãos de uma puta, dum mau encarado e duas misérias de corpo.
“mais um conhaque.”
Espreitava a janela, afim de reconhecer o beijo mais doce que teve, num vestidão florido, amarelado pela luz do apartamento, de onde incensos e slides brotavam pela chuva às luzes lá fora. Sumia pela consciência as obrigações baratas, no desejo de reinventar-se a noite, fim do seu dia, pedaço de sua vida.
Dias, juras, janelas e amores são noites de puro gozo à musicalidade total dos adornos paixões cachos casos sementes tesões.
Disfarçado e júbilo. Júbilo e discreto.
Menina perversa que põe a dela onde quer. Onde o menino quer. Mas, sinuca! O menino quer onde a dela quer! Ô insentatez...me dê um sorriso, que multiplico por vontades mil! Me dá uma pala, que eu assino embaixo: arte vil!
É, ele vai andar assim, dia afora noite adentro. Calado por impressionado...
As paixões e os copos se misturam as luzes – na chuva – do asfalto.
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