Cuspiu. Seco e sem rumores. Apenas cuspiu no meio-fio.
Heraldo cospiu no chão, e disse: “ se dissolve em muitas partículas. Tem-se no ar. Logo infesta o ambiente, num círculo que desce do cinzeiro até a altura da mão, e vai até o chão.”
“É, acho que sim...”- resposto
Heraldo – “Confesso: espalha-se pela laje que jaz o solo de meu apartamento! Mas que se diz? Que importa, hã?”
“Nada Heraldo. É, acho que sim...nada.” - resposto
Espantosa poética (laje rua e laje apartamento) de Rê -o Heraldo- que conceitua o crack, como uma porta da alma. Lógico que é essa sua filosofia usual e atual: a porta mais escandalosa e deprimente por ele conceituada. Partes que vão da porta até o chão, até o concreto da laje. “e pode?”- indaga silenciosamente a única, a prestar-se à Rê.
GLOBALIZAÇÃO: A VITÓRIA DAS DOENÇAS INCURÁVEIS! – esse é o título do TCC de Heraldo, mas, como o próprio admite: “academia limita a gente...eles não entendem... não vivem! Aaahhh....meu TCC vai ser reprovado, porque claro, é vida, é prática.
Soletrou e gritou cerimoniosamente: “Não me demoro com artifícios de artificialidade, mas, estou certo. E U E S T O U C E R T O. EU ESTOU CORRETO, PORRA!”
“Eu dou paulada sim!”, afirmava com a convicção de demonstrar ao outro, toda a certeza do desafio que acontecera em seu pequenino espaço de vida. Era sua herança.
Ele soube do óbvio ululante de Nelson, que hoje, perdoem-nos os que analisam os homens da arte, está mesmo óbvio demais...ÓBVIO SIM!
- mas pausa. Agora, esclarecimento: óbvio para Heraldo era, nesse período, ter-se abitolado nas químicas tanto quanto nas emoções; na vida; no entusiasmo; na fé e na promessa. Até agora são apenas pensamentos dum perturbado que, encontra-se ardentemente fugido...buscando o que almeja inalterado e eterno. inalteradamente como também eternamente...buscando...
...e...?-
“É absoluta a maravilha de se buscar uma certa ABSOLUTA plenitude pra minha vida!”- diz o perturbadinho, jaz avacalhadamente inalterado.
Mas Rê sabe o que faz. E sabe também (logicamente conhecedor do meio) o que é realmente o crack. Sua preocupação é saber que a turma que ele conhece, desse mesmo barco, não enxerga nada além dessa pedra, dessa BRITA de nome crack.
Nada mais ilustra-a como o acontecimento da bolsa: “ o crack paralisa, te leva ao medo de perder tudo, amigo. Como a bolsa de NY que tu ouviste falar na escola, como o CRACK DA BOLSA DE VALORES: A PERCA TOTAL, TOTALI...”- repete isso duas ou três vezes na mesa de bar. “É ISSO!” – grita, louco.
Ele pergunta ironicamente, pra não haver discussão: “não é uma droga? HEIN? Não faz-lhe dependente, HEIN? HEIN!?”- braveja ao tom dum filho que se perde da mãe no meio dum comício para deputado federal. “Não paralisa?” – repete novamente bravejante.
BRAVO! Bravo! È isso, pois sim, o que nosso herói, Héros, o Heraldo, Rê-raldinho merece. Ele que na vida está sempre assim por não ter, merece a espera. E sabe disso. Ele sabe sim, e por isso dá voltas. Por isso muda, diversifica, pula dum galho no noutro – nunca repete – isso, dum galho pro outro sem repetir: Ele é assim. Heraldo, que tratam como um Deus por não se abitolar numa droga; num sonho por não dormir direito; num médico pela sua fragilidade fisiológica crônica e persistente. “Heraldo não é tristeza! Heraldo é vida e sonho”- dizem os admiradores que se dividem entre discípulos, observadores e caminhantes. Alguns em busca dum mestrado, um doutorado, ou algo mais próximo do que interesssa: A VIDA.
ponto final............................................................................................
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