Iam pela rua um jovem pai e seu filho, este de uns 7 ou 8 anos. De repente, cruzam com um cortejo fúnebre, que vagarosamente segue pela rua. Havia cerca de 50 automóveis. O pai pára e fica acompanhando, sem, no entanto, olhar mesmo pra valer. Fica numa espécie de estado de distração.
De repente, se dá por sí e percebe que podem retomar a caminhada, que o cortejo sumira. Ao olhar pro filho, percebe que este escondera o rosto, tapando a visão com as mãozinhas.
- Que foi, filho?, pergunta o pai.
O garoto responde:
- É que o Zequinha ( um colega da escolinha ) disse outro dia que a gente não pode olhar o último carro do enterro ( disse "enterro" quando queria dizer, na verdade, cortejo )...
- Por que, uai?, pergunta o pai, compreensivelmente intrigado.
- É que o fantasma do morto vem pegar a gente..., responde o petiz.
- Ahhh, é?, pergunta o pai. Vem atrás da gente, é? Credo!!
- Éééé!, diz o filho.
- Mas o papai não olhou, viu?
- Que bom, papai. Eu também não.
- Então, filhote, não vai ter fantasma puxando nosso pé à noite.
- Que bom, papai!
( *** )
Num outro dia, novamente pai e filho cruzam com outro féretro. O menino tapa os olhos, mas o pai, achando que o filho não devia acreditar em superstições, provoca:
- Papai não tem medo! Papai vai olhar o último carro, pra mostrar a você que não tem essa de fantasma!
- Não, paaai! Não faz isso!
- Agora já fiz. Olhei o Golzinho que passou, e ele era o último do comboio.
- Não, pai-ê!
E o menino começa a chorar:
- Papai vai morrê-er!
Arrependido do que fizera com o filho que, afinal, era muito novo para entender essas coisas, o pai resolve mentir:
- Olha, filho - diz, enxugando as lágrimas do garoto na própria camisa - se você quiser salvar o papai, proteger ele dos fantasmas dos mortos, basta toda noite rezar pro Papai do Céu e pedir pra Ele proteger o papai da Terra, que aí não vai acontecer nada comigo...
- Snifff! É memo, papai?
- É sim!
- Então eu vou rezar toda noite!
- Tá bom, filho!, responde o pai.
"Uma hora ele esquece o caso", refleitiu
E não se falou mais nisso por anos.
( *** )
Anos depois, o pai estava na cama, tentando dormir, inutilmente.
Meio sonolento, começa a escutar uma voz, vinda sabe-se de onde. Das profundezas de algum lugar, parecia:
- Jooooooo-oooo-oooorgeeeeee!
"O quê?!", pensou. Que lamento seria aquele? Aliás, estaria ficando maluco, escutando coisas? Estaria dormindo?
"Nãããã-ãããooooo...", respondeu a voz, "...você está bem acooordaaaa-aaaa-doooooo..."
- Estou louco, só pode ser!, exclamou o pai.
- Eeeeuuuuuu viiiiii-iii-iiim te buscaaaaa-aaaaa-aaarrrrrr!"
- Você quem? Quem é você?????
- Euuuu morrrriiiiiii e vocêêêê olhouuuuu o úúúuultimooooo carrrooooooooooo do meeeeuuuuuu corteeejooooooo!, explicou a voz desencarnada.
- Mas - indagou desesperado o pai - por quê depois de tanto tempo??!!! Só agora!? Por quê, alma penada?
- As oraçõõõõ-õõõõesssss do teu filhoooooo te salva-a-a-aaaaaaram até agooooraaaaaaaaa!!!
- Uai, e o que mudou, Deus do Céu???
- Teu filhoooooooo viroooou adolesceeeeeeeeenteeeeee e resolveuuuuuu virar at-e-e-eeeeeeuuuuuuu desde oooonteeeeemmmmmm! E parouuuuuuu de rezaaaaaaar pra vocêêêêeeeeee....! Agoraaaaaaa nããooooo temmm maissss jeeeeitoooooooo...!"
- Não! NÃO!
Mas não teve jeito, e a "Maldição do Último
Carro do Cortejo Fúnebre" fez mais uma vítima.
Vai mexer com o sobrenatural pra ver o que acontece.
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