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Humberto

Uma rua qualquer de Sampa. Apenas residências. Àquela hora, pairava um bela tranquilidade. Dava até para ouvir o pio de alguns pássaros, ou latidos de cães em ruas próximas, tamanho o silêncio que ali se fazia.

De repente, aquele cenário de paz e tranquilidade se desfez como sorvete deixado no meio da rua num dia de verão.

Um ruído alto, desagradável e distorcido que invadiu as casas. Nem colocando a TV no volume máximo dava para entender alguma coisa. Passado o susto pela surpresa ( o barulho veio de repente, "caiu" ali, sem mais ) os moradores passaram a prestar atenção e perceberam que era uma mensagem, e não a turbina de algum avião, como pensaram alguns -os mais afoitos pensaram que um objeto igual ao que devastou Tunguska caía na rua.

A mensagem vinha de um alto-falante, instalado no teto de uma Variant verde, velha e podre.

Convidava:

- OLHAÍ, OLHAÍ, FREGUESIA! OFERTA SÓ HOJE! VENHA VER, MINHA SENHORA! É SÓ HOJE!

Um vendedor. Maldito e barulhento:

- OLHA O PRODUTO DE PRIMEIRA NECESSIDADE! BARATO MESMO! SÓ AQUI! SÓ HOJE! VENHA VER, MINHA SENHORA! VEM FREGUÊS! PRA VER NÃO PAGA NADA! ESTAMOS PASSANDO NA SUA RUA, TRAZENDO ESTE MAGNÍFICO OBJETO DE USO DIÁRIO!

Puta que pariu, esse cara não vai parar?

- OLHA AÍ, FREGUESIA! OLHAÍ! É SÓ HOJE! MULHER
BONITA NÃO PAGA MAS TAMBÉM NÃO LEVA!

Dãããã...

Na casa de número 56, Dona Samanta se prepara para sair à rua, ver que "oferta" estão divulgando com tanto ruído. No 84, seu Rubens faz o mesmo. "Que será que o filhadapê tá vendendo? Ele não diz, caramba!", observa.

O mascate para sua Variant numa esquina, em um local estratégico, de modo que o barulho produzido pelos alto-falantes tenha a condição de invadir as casas ao redor e estuprar com requintes de serial killer os tímpanos dos moradores, sem direito a defesa:

- OLHAÍ, FREGUESIÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁ...!

Aos poucos, alguns moradores vão se aproximando da Variant. Comentam entre si: "Mas que verme, heim?"

- É. Puta barulhento!

- Ele não respeita os outros e ainda quer vender aqui suas porcarias?!

- Aliás, que é que ele vende, mesmo?

- Ele não falou, ué?!

- Vamos perguntar, né?

- É. Vai que é alguma coisa boa.

- É mesmo.

Apesar do barulho infernal ainda maior, por estarem mais próximos do veículo, a possível freguesia não desiste. E o vendedor, mesmo observando as pessoas se aproximando, não diminui o volume daquela porra. Afinal, chegam no carro e, com dificuldade, alguém pergunta, aos berros:

- AMIGOOOOOO!

- OPA! OLHA O FREGUÊS CHEGANDO! PODE PEDIR, QUE TÁ BARATO! AQUI É OPORTUNIDADE, PREÇO E QUALIDADE!

- TÁÁÁÁÁ! JÁÁÁSSEIIIII! MAS, AFINAAAAAL, O QUE É QUE VOCÊÊÊ VENDEEEEE?

- TAMPÃO DE OUVIDO, FREGUÊS!!!!


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