CAPÍTULO DOIS
Deise tomou um banho demorado, esfregando bem o corpo para tirar a poeira. Seus cabelos estavam desgrenhados e passou um bocado de tempo penteando-o, como se há muito tempo não fizesse aquilo. Perfumou-se e assim que voltou para a sala, dona Frederica deu-lhe uma faca e uma bacia com alguns legumes.
- Toma – disse a velha. – Descasque-os, corte-os e deixe aí, que farei uma sopa para a janta.
- Mas papai diz que não posso manusear facas; posso me cortar.
- Bobagens. É isso que dá viver na cidade, não se aprende a ser gente. Desde cedo deve-se aprender a cuidar de uma casa. Já é uma moça, deve se comportar como uma. Já arruma casamento e terá de cuidar de uma casa. Se tivesse uma mãe saberia disso.
Deise pensou se se casar fosse uma boa ideia. Cuidar da casa, lavar pratos e servir ao marido não lhe agradavam.
Ela pôs a bacia no colo e olhou as cenouras. Pensou que, se tivesse uma mãe, o pai não teria saído para longe, deixando-a com a velha que lhe entregava uma faca, correndo o risco de cortar-se. Ela suspirou e começou a trabalhar, devagar e atenta, temendo cortar-se com a lâmina.
No finalzinho da tarde, a velha deu-lhe uma folga, mas advertiu-a que não fosse além do bosque, pois a floresta era muito perigosa para garotinhas. Ela tomou banho e vestiu um vestido amarelo, com um laço na cintura. Pôs uma flor no cabelo e saiu, a procura de Rubens.
Rubens era um gatinho de cor amarela, rajado por todo o corpo.
Em frente à casa, havia uma cerca, que delimitava a propriedade do coronel Amâncio, onde era possível ver alguns negros trabalhando.
Seguindo a estrada, em sentido ao nascer do sol, poderia chegar-se a casa do senhor Egídio, comerciante de leite e queijo.
Assim que Deise chamou Rubens, o bichinho veio preguiçosamente, saltando de um galho da macieira, onde cochilava.
- Aí está você, menino. Vamos colher algumas flores, preciso leva-las para mamãe. Devo contar as novidades para ela.
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