CAPÍTULO UM
Erguida entre as serras, a pequena cidade de Andaluzia prosperara como nenhuma outra no tempo do garimpo. Acabada a safra do ouro, muitos se mudaram, ficando ali somente aqueles que compraram terras e escravos, tornando-se coronéis ou comerciantes bem sucedidos.
A uma légua da cidade, um pequeno vilarejo fornecia tudo que ela precisava. Dava gosto de ver as frutas da estação, as flores de uma infinidade de cores e o rio, que fornecia a água para todos os moradores. Lá morava o comerciante de leite, o homem das rapaduras, a comerciante de legumes e tantos outros.
Um certo Nestor, morador da cidade e homem de poucas posses, viu-se atolado pelas dividas e tratou logo de pedir dinheiro emprestado. Como todos os seus conhecidos da cidade lhe negaram tamanho favor, resolveu que era hora de tentar a sorte noutro canto.
Pai de uma menina de olhos amendoados e dada a travessuras, hesitou por um instante em viajar, pois não poderia levar a pequena, uma vez que a viagem seria longa e extenuante. E foi num sábado que a ele veio a solução:
- O que te atormenta, homem? – perguntou Frederica, a mulher que lhe fornecia os legumes e amiga de longa data.
- É a Deise, dona. Os negócios estão ruins, preciso procurar nova vida em outro lugar, mas não posso leva-la agora. Temo que eu não possa viajar por causa disso.
- Ora – disse a mulher. – Deixe a garotinha comigo. Eu mesmo estava precisando de alguém para me ajudar na lida da casa. Sabe que sou viúva e não tenho filhas, apenas um menino macho que se foi para a capital.
- Mas não lhe causará problemas?
- Claro que não. Quanto tempo pensa em deixar a menina?
- Até que eu arrume um emprego fixo. Creio não demorar muito para encontrar.
- Então faça sua viagem, que da Deise cuido eu.
E as malas foram arrumadas, os beijos dados e as lagrimas rolaram do rosto pequeno da menina.
- Não fique assim filha, o papai volta logo.
- Não posso ir com o senhor? – perguntou Deise.
-Não por enquanto, o papai deve se estabelecer primeiro para poder busca-la. estou indo para morar com uns parentes distantes do papai, não é chegarmos os dois assim de uma vez. Prometo que a nossa casa na capital terá muitos cômodos e um quarto só para você ,princesa.
- Promete?
- Sim.
-Está bem. Vou ser boazinha e esperar o senhor vir me buscar.
- Isso. Obedeça à senhora Frederica, faça tudo que ela disser e não se esqueça do que conversamos.
- Sobre a mamãe?
- Sim. Não gosto de você andando por aí, mas como não posso impedi-la de visitar sua mãe, quero que nunca se afaste do vilarejo, ande sempre no caminho da ponte e nunca vá para a floresta. Está me entendendo?
- Sim, papai. Mas não se preocupe, o Rubens vai comigo, não tenho medo.
- Bom – disse Nestor, suspirando. – Isto me deixa realmente despreocupado.
Deise abraçou demoradamente o pai, deu-lhe um beijo e mais um abraço.
O pai seguiu de trem para a capital, onde ela imaginava existirem flores de chocolate e árvores de algodão doce.
- Mas que imaginação ridícula, menina! Árvores de algodão, doce – disse-lhe Frederica, guiando a carroça no chão duro do vilarejo.
- Pois não vejo outra razão para o pai ter de viajar – respondeu Deise, com Rubens no colo.- Aqui estávamos muito bem.
Depois de cuspir o fumo que mascava, Frederica disse:
- Os adultos é que sabem das coisas, menina!
Chegaram à casa da dona Frederica, uma casa azulada, com metade da cor desbotada pelo tempo. As duas desceram da carroça e entraram na casa.
Não se demoraram muito para desfazer as malas de Deise. Afinal, não eram tantas coisas, pois o pai da menina voltaria logo. Ela dormiria no quarto que era do filho de Frederica, agora morando na capital
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