Tenho ouvido e escutado o que dizem na cidade,
que dois amantes que muito haviam se encontrado,
por força não do destino, mas do destino forçado,
em bruta composição de forças foram separados...
Cada um em seu canto e cela, assim é que se sentem,
perto da ruína estão bem, quase com falas de dementes,
desgrenhados pois que a falta de amor traz a falta de higiene,
dizem, contaram, que está ela mui grávida, senão prenhe...
O canto que cantam em tabernas e esconderijos contém pena,
o amor que se fatia em dois sangra e ferve-se em fogo de ódio,
os que pariram essa cisão desmentem dizem ser de herança plena
evitar que tais cônjuges se amem e que cheguem ao pódio...
Tentaram, bravata vã, romper o círculo que o mal instiga,
feriram e foram feridos em embate sem fim anunciado,
mortos alguns, em ruas pedaços de corpos depois da briga,
o mal, vencedor acima do amor, esbravejou: eis-me coroado!
Fecho este com uma lágrima que força a porta das pálpebras
e cai, solene, se espatifa em meu branco terno de linho;
mortos os dois amantes, sem a fuga pela possibilidade da álgebra,
escrevo este bebendo licor, no fundo da taberna, só, sozinho...
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