Preciso tanto
de um canto
onde eu possa expor os quadros que pintei,
telas de tudo o que encontrei
caído pela vida,
um lenço de seda,
uma pedra polida,
um olhar vago a sonhar,
qualquer coisa apanhada pelas ruas
de tantos caminhos,
uma flor amassada, cheia de lágrimas,
meia garrafa de vinho,
retrato repartidos,
poemas rasgados,
cabelos postiços...
Numa esquina qualquer do planeta
encostar meu corpo cheio de marcas,
entoar o último cântico, negro, bélico,
abraçado aos anjos caídos do Paraíso
tecer os últimos versos para Deus
ler no meu enterro...
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