O que pode o muro
quando o pulo
contra ataca
com seus pés de águia
e suas unhas de bicho-preguiça,
quando o carro enguiça
e você tem vontade de andar?
O que pode o que não é veloz
quando teu pensamento surge
como um albatroz
à procura de peixes que o sacie?
O que pode
o que não pode
quando te acolhe
a vontade de mudar,
sabes-te poderoso e com vontade de voar?
O que pode a velha escola
quando a página antiga se descola
do livro de cem mil ensinamentos
e tua palavra encontra
o novo tempo
voando sobre o pátio de execuções?
O que pode a espada
quando o ferreiro apaga
o fogo que alimenta exércitos
e não se vê, por perto,
nenhum soldado esperançoso,
nenhum general em mistério gozoso?
O que pode a sanha da religião
quando o homem ouvir seu coração
lhe dizendo que procure em si
o que te vendem Golias e David,
bem diante de Deus,
diante de ti?
O que pode a poesia
quando a noite a lápide fria
do túmulo do poeta
envolve e recoberta
pelo musgo do silêncio
só a flor silenciosa
pelA fresta do sonho se aperta?
O que pode a palavra
quando esta está a comer-se como larva
restando fragmentos poéticos
que caem dos lábios
úmidos e céticos?
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