Foi aqui, tenho certeza,
que enterrei a poesia que queria partir
antes da arribação...
Abri uma cova de dez centímetros
e a depositei com suavidade,
não se espanca palavras
que porventura tenham morrido...
Era uma tarde quase azul com manchas brancas,
pássaros ao longe partiam rumo ao Sul,
nem verão e nem inverno,
só o calor amontoando gotas
por dentro da camisa...
Desde criança sempre soube
que outras poesias nasceriam
no lugar em que se enterrasse uma delas,
seria como um verde jardim
feito de pétalas de outrora...
Mesmo assim fiz questão
de que estivessem duas ou três pessoas
junto a mim, testemunhas do meu denodo,
bebemos a água que trouxemos,
falamos sobre as estações,
rimos dos pássaros felizes,
ainda assim a tristeza sombreava
nossos rostos como se usássemos chapéus...
O destino de uma poesia?
Só ela sabe, se sabe não nos diz,
a cada dia um dia do calendário vai embora,
só ficamos com o número
marcando um tempo que já se foi...
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