Oh negror do mundo que nos cobre a todos,
vasto manto de grossa pele que nos sufoca,
nem o sol, que se esconde atrás das nuvens,
tem coragem de por o nariz para fora,
apenas envia seus raios para nos aquecer,
nem a lua, espiã atrasada de Vênus,
derrama seus lentos olhares,
nós, abraçados uns aos outros,
respiramos e trocamos nosso ares,
oh negror que recobre o mundo
e nos sufoca e nos afasta
da calma brisa marítima...
Mundo, tão vasto mundo apesar de círculo,
de tão imensa capacidade de nos abrigar,
o que te fizeram que a nós fizemos mais,
que nos obrigamos a te odiar,
que fizemos o amor esperar na estação
e nunca chegou a nós e nem aos outros,
cansados de tanto orgulho e tradições,
cansados de adorarmos deuses e bonecos,
o que fizemos a ti, adorado mundo,
que já não fizemos a nós,
sementes que alimentam o mal,
o que mais podemos querer
senão abrir o manto e rasgá-lo,
deixar que as crianças andem pelos campos,
que os animais pastem no campo selvagem,
que os riachos corram aos braços
de seus pais,
oh mundo, que já foi de arco-íris,
que já foi de flores e abelhas e mel,
o que fizemos a nós que já não
te fizemos mais,
com nossas lágrimas nem lavamos nossos pés,
que nada espere de nós,
que nem esperamos mais,
oh mundo coberto por este manto
que nos tornam sombras fugidias
de um tempo que ainda nem nasceu?
|