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A Viagem da Pipa Fênix
Conscientização Contra o Uso do Cerol
Clayton de Jesus Camargo

Resumo:
Fênix é uma doce pipa que foi cortada por uma outra pipa que tinha cerol, e tudo que ela mais deseja é reencontrar seu dono e amigo, mas antes de tudo terá que passar por várias aventuras e conhecer muitos lugares, e no fim ainda cumprir uma importantíssima missão.

Será que Fênix irá conseguir?

Mas esforçai-vos, e não desfaleçam as vossas mãos; porque a vossa obra tem uma recompensa.
II Crônicas 15,7



                  A VIAGEM DA PIPA FÊNIX



A pipa Fênix voava sossegada presa à linha do seu dono lá embaixo.
— Ah! Que delícia é aqui em cima. Que ventinho refrescante... – Fênix deslizava no céu pra direita e esquerda, e às vezes descia de um mergulho cortando o ar e depois subia potente e feliz para o alto novamente.
— Daqui de cima pode se ver quase tudo! Como eu gostaria que o meu dono me desse mais linha e assim eu poderia ver mais e mais.
            Quando Fênix ainda pensava sobre isso, veio descendo uma outra pipa com muita fúria e gritou para ele:
— Prepara-se. Vou te cortar!
Fênix tentou desviar, mas infelizmente a linha com cerol da outra pipa o cortou da linha que ligava ele ao seu dono. A pipa Fênix cambaleou para trás com a força do vento que a empurrava sem controle.
— Oh, meu Deus!... Eu não quero me separar do meu amigo dessa maneira!...
Mas o vento o levava pra longe, muito longe...
            
A pipa Fênix chorou por não ter tido a oportunidade de se despedir do seu dono com mais carinho. Ele se lembrou das tardes de sol em que juntos brincavam felizes, e de como ele o tratavam tão bem.
            Nunca seu dono e amigo havia colocado cerol em sua linha e nunca empinou ele em lugares de riscos, como rede de energia elétrica.
            A correnteza do ar era forte e carregava Fênix contra sua vontade, que ia triste sem saber o que o destino lhe reservava.
            Depois de algumas horas passadas a pipa Fênix percebeu que o vento trazia outra pipa e este seguiu viagem lado a lado com Fênix.
— Nossa você está muito mau companheiro. O que aconteceu com você, afinal? – perguntou Fênix que era uma pipa vermelha.
            A outra pipa era verde e estava com vários furos em sua folha de seda e sua rabiola estava só pela metade. Ele estava tão arrasado que quando respondeu, sua voz era de um profundo lamento:
— Uma outra pipa que tinha cerol me cortou... Fui sendo carregado desde então por aí e o vento me deixou preso num fio de rede elétrica. Alguns garotos atiraram pedras sobre mim, e por isso estou todo furado. Depois o vento retornou e me carregou, e minha rabiola se enroscou num galho de uma árvore e perdi uma boa parte dela...
            A pipa Fênix sentiu tão triste pelo que aconteceu com o seu companheiro, que em vista de seu estado com o dele estava muito bem, ainda. Mas ele ficou imaginando se teria que passar pelas mesmas dificuldades que ele, e por isso sua tristeza cresceu ainda mais. A pipa verde tentava justificar o seu terrível destino:
— Ah... Como meu dono foi ingênuo! Ficou achando que ninguém ia me cortar, e por isso ficou despreocupado e não usou cerol em minha linha, e olha o que aconteceu... Se ele estivesse prevenido antes, não seria eu que estaria aqui agora, mas a outra pipa...

            A pipa Fênix ouviu todo chocado. Ele era contra o uso de cerol nas pipas porque isso causava diversos acidentes, e muitas mortes também. Ele tentou consolar o companheiro com razão:
— Me dói em vê-lo nessa situação, acredite, porque também fui cortado por uma pipa com cerol e posso passar pelas mesmas dificuldades que você passou, mas não posso ficar calado e aceitar que o cerol é uso de proteção. Isso não! Já tenho visto daqui de cima vários acidentes que o cerol já causou nas crianças e nos adultos. O cerol é um crime!
            A pipa verde olhou para Fênix e zombou dele, dizendo:
— Você fala isso agora, mas quando você estiver diante de uma queimada de um canavial, ou de um rio por aí, você vai se arrepender e lamentar pelo fato de seu dono não tê-lo protegido com o cerol! – e o vento que carregava ele o levou pra outra direção, deixando Fênix sozinho.
            A pipa Fênix ficou pensando nas ultimas palavras da pipa verde e sua fraca esperança desmoronou de vez.
— Será que o meu dono estará me procurando? Ou será que está fazendo outra pipa para me substituir?... – ele ficou sem saber ao certo das respostas e por isso chorou, e seu medo aumentou quando pensou que seu destino era um canavial em chamas...
— Vou tentar dormir... e quem sabe eu não vejo o fim de meu destino! – e dormiu muito angustiado. Ele estava tendo um pesadelo. Sonhou que havia caído no fio de rede elétrica e havia crianças com bambus tentando tirá-lo, e umas das tentativas das crianças conseguiu puxar sua rabiola e Fênix acordou do sonho assustado. Mas ele ficou ainda mais assustado quando viu que na sua rabiola cumprida se debatia uma outra pipa, enroscado nela.     
— Como você veio parar aí? – perguntou Fênix se recuperando do susto, vendo a pipa amarela toda arrasada. Suas condições físicas eram bem pior do que da pipa verde.
— Oi companheiro, me chamo Dragon e o vento me trouxe na sua direção e minha pouca rabiola se prendeu na sua.
— Oi eu me chamo Fênix – respondeu. - Mas você está muito machucado, não sei como ainda consegue ser carregado pelo vento. Até as pontas das suas varetas estão quebradas! – se assustou Fênix.
            Dragon não se abalou com os comentários e disse, com toda a calma:
— Tenho sorte de não ter sido destruído ainda pelas as aves do céu ou pelas turbinas dos aviões. Já faz mais de um dia que estou voando entre as nuvens e me arrependendo.
            A pipa Fênix estranhou:
— Mas se arrependendo do quê?
A pipa Dragon reuniu as forças que ainda lhe restavam e contou sua história de vida:
— Fui uma pipa cortadeira. Cortava sem ter dó às outras pipas e me considerava o superior do céu. Fui responsável por diversos acidentes e de mortes também. Por minha causa crianças atravessavam as ruas atrás de suas pipas e eram atropeladas pelos carros, outras tentavam tirá-las das redes elétricas e eram eletrocutadas... Havia me transformado num incentivador ao uso do cerol e ele também me destruiu. Agora veja minha situação... Estou arrependido dos meus erros, mas não reclamo dos castigos que venho recebendo desde então.
            A pipa Fênix ficou sem palavra. Mas sentiu lá no fundo do seu ser uma enorme gratidão de vê-lo arrependido dos seus erros, e por ter percebido o mal que é o uso do cerol. Ele sentiu bem melhor acompanhado com sua presença do que quando estava com a pipa verde, que tinha perdido a razão e apoiava no fim de sua vida o uso do cerol.
            Eles conversaram bastante ao decorrerem juntos pelo céu, e a pipa amarela disse que ainda tinha esperanças de que o vento o levasse acima das nuvens, para morar no país das pipas livres. Fênix não conhecia nada daquilo e pediu mais detalhes desse lugar. Então ele explicou:
— É um lugar lindo e fica bem acima das nuvens mais altas. Nem os aviões, foguetes podem chegar lá... As pipas vivem alegres e podem voar sozinhas, e nem precisa do vento pra isso! Lá não tem chuva para estragar nossas folhas, e não precisamos de linha e nem dos nossos donos! Somos livres... - e ele suspirou. – Espero que eu mereça ir pra lá também.
            A pipa Fênix achou que ele estivesse delirando por causa das dores que estava sentindo, mas nem por isso quis dar sua opinião sobre aquilo, porque não queria tirar esse seu sonho, e forçou em apoiá-lo:
   
— Tenho certeza de que você irá encontrar essa paz e viver feliz pra sempre.
Mas de repente a mudança de tempo mudou, e o vento ficou mais agitado, e um redemoinho de vento apareceu e veio em suas direções, e puxou-os para baixo, juntos com galhos de árvores e poeiras. Fênix gritou desesperado, mas eles se foram...


            Quando a pipa Fênix acordou, (isso porque tinha perdido a consciência por causa do incidente lá no céu) ele percebeu que não estava mais no céu, e sim deitado numa mesa. Ele sentia muitas dores e sua folha estava rasgada e perdera metade de sua rabiola.
            Ele estava confuso e olhou para os lados e percebeu que tinha vários brinquedos parados em estantes embutidos nas paredes e viu um ursinho de pelúcia bastante velho vindo pro seu lado.
— Olá, como você se sente? — perguntou ele, e lhe faltava um olho.
A pipa Fênix suspirou e respondeu:
— Bastante fraco... Como eu vim parar aqui? E onde está o meu companheiro?
— O nosso dono os encontrou enroscados na cerca e os trouxeram pra cá. — disse o urso. Outros brinquedos se aproximavam deles.
            Fênix sentiu-se grato e queria muito ver o menino que os salvou.
— Queria tanto ver esse garoto... e onde está o meu amigo? Não o vejo.
O ursinho se aproximou e ergueu Fênix com cuidado e então Fênix sentiu uma dor mais forte, uma dor emocional ao ver seu amigo, a pipa amarela, num canto todo destruído.
— Meu Deus! Ele não aguentou o vento... — disse se lamentando, com os olhos marejados em lágrimas. O urso o repousou novamente no solo da mesa e revelou:
— Ele estava vivo quando o meu dono os encontrou, e não foi o vento que o destruiu... Foi o nosso dono que fez aquilo.
            Fênix ficou horrorizado.
— Mas porque ele fez isso?!
Uma bola de futebol com um lado murcho de muitos anos parado sem ser usado se aproximou e respondeu:
— Porque ele odeia pipas!
Fênix não queria acreditar. Como era possível uma criança que tinha tantos brinquedos em seu quarto não gostar de pipas? Quando ele fez essa pergunta para o urso, ele respondeu:
— Ele não é uma criança, é o dono dessa fazenda e é um velho muito angustiado. Há dez anos atrás sua única neta cavalgava feliz com sua égua pelo pasto quando uma pipa se enroscou numa árvore ali por perto. Mas essa pipa tinha uma linha com cerol e a linha ficou estendida numa outra parte... A pobrezinha da criança não viu a linha à sua frente e... — o urso estava emocionado e parou de contar, mas foi à bola que continuou firmemente com o resto. — ... e ela teve um corte em seu pescoço, e faleceu nos braços de seu avô que desesperadamente a levava para o hospital... Desde então ele proibiu que todas as crianças ao redor de sua fazenda soltassem pipas, e passou esses anos destruindo todas as pipas que por aqui caíam. Foi o que aconteceu com seu amigo, e é o que vai acontecer com você ao amanhecer!
            A pipa Fênix sentiu um frio de medo passar por suas varetas e ele protestou:
— Ele não tem esse direito! Não é justo que ele vingue sua dor destruindo as outras pipas inocentes. Muitos de nós não usamos cerol e sabemos que isso é um erro grave. Ele não pode me destruir porque eu preciso voltar para o meu dono e amigo e encontrar uma forma de deter o uso do cerol nas pipas!
            Os brinquedos escutaram e só o que podiam fazer por ele era se lamentar por seu terrível destino.
            O urso deu sua opinião:
— Não acredito que você e seu dono conseguiriam impedir que o cerol deixasse de crescer nas pipas. A melhor maneira é proibir que as crianças e jovens soltem pipas, assim nenhuma outra criança teria o mesmo destino que a neta do fazendeiro teve. Essa é a verdade e você tem que concordar! — as maiorias dos brinquedos concordaram com o urso, mas Fênix defendeu firme sua ideia:
— Vocês acham que o pouco não faz diferença, não é? Mas eu afirmo que faz sim e muito! E vou lhe dar um exemplo verdadeiro que o mínimo faz a diferença. E esse exemplo é Jesus. Esse homem reuniu apenas poucos amigos e saiu curando muitos doentes que os médicos não curaram. Jesus não precisou reunir uma multidão para que seu objetivo fosse realizado, e hoje em dia ele é o símbolo mais verdadeiro que existe, e prova o que estou dizendo, que o pouco faz diferença e muito!
            Todos se calaram. Eles sabiam que não tinha o que discordar das palavras sábias da pipa. Mas o urso foi teimoso e respondeu:
— Isso foi há muito tempo e hoje as coisas são diferentes, e você bem sabe disso. E você não irá escapar do fogo que o espera ao amanhecer. Sinto muito, mas sou realista e não perco mais tempo acreditando em falsas esperanças...
            Os brinquedos gemeram ao saber o que realmente esperava por ele ao nascer do sol.
— Não existe nada pior para um brinquedo terminar sua vida no fogo! — gritou uma boneca tremendo de medo.
— Você está errada, cara amiga. Só o fato de vocês terem desanimado e desistirem de que um dia novo e alegre lhes voltariam é o pior destino que um brinquedo pode terminar em sua jornada aqui na terra.
            O urso resmungou, e Fênix olhou pra ele:
— E sobre o que você disse caro urso, eu é que sinto muito por você, e por todos vocês. Sei que os anos em que vocês passaram aqui, abandonados, sem o aconchego e carinhos de sua dona fizeram vocês perderem as esperanças... mas essa mesma esperança que vocês perderam está ressurgindo em mim de uma forma incrível! Sei que as dificuldades vão surgir, mas sei que poderei enfrentá-las e o meu objetivo cumprir!
            Quando terminava de discursar essas palavras veio voando uma linda coruja branca pela janela do quarto aberto e pousou delicadamente na mesa. Ela falou:
— Estava no galho escutando você falar com toda essa coragem e confiança e me alegrei de verdade! Vou te ajudar a sair daqui e levá-lo ao seu dono. — E a coruja pegou com cuidado a pipa que estava maravilhada com sua boa sorte e decolou pra fora daquele quarto, mas antes Fênix gritou feliz:
— O POUCO COMEÇA FAZER A DIFERENÇA! — e a noite tinha agora um brilho de esperança, junto com o seu olhar de felicidade.
Durante o percurso da viagem eles conversaram bastante, e Fênix orientou que seu dono morava para o sul, perto de uma igreja abandonada numa colina. Por sorte a coruja já tinha visitado aquela igreja algumas vezes e sabiam onde a cidade ficava.

            
Eles finalmente encontraram a cidade, e a coruja guiada pelas orientações de Fênix encontrou a casa de Gabriel, o dono de Fênix.
— É aquela casa! Finalmente chegamos. — comemorou ele.
A coruja pousou Fênix no lado de fora da porta e sobrevoou até o parapeito da janela do quarto do garoto. A coruja viu através da janela de vidro o garoto dormindo, e a um canto um papagaio no poleiro.
            A coruja começou a picar a janela com o seu bico até que o barulho despertou o papagaio dorminhoco.
— Coruja feia na janela! Coruja feia na janela! — começou tagarelar, e Gabriel acordou e acendeu o abajur ao lado.
— O que houve...? O que está acontecendo? — perguntou ele bocejando de sono.
— Coruja feia na janela! Coruja feia na janela! — repetia escandalosamente.
Gabriel olhou então pra janela e viu que tinha mesmo uma coruja. Ele saiu da cama e foi até a janela, mas a coruja voou pra baixo. Gabriel abriu a janela e notou que perto da ave branca havia uma pipa vermelha, toda machucada.
— Fênix! — gritou ele surpreso.
A coruja olhou para a pipa, e disse:
— Acho que minha missão termina aqui.
— E a minha só está começando, companheiro. Muito obrigado por tudo!
— Tenha uma boa sorte. Adeus! – e saiu voando antes que o menino abrisse a porta. Gabriel ficou parado com seu pijama no vão da porta, e lágrimas nasceu em seus olhos ao ver ali perto aos seus pés a sua companheira pipa.
— Fênix... — e abaixou e com cuidado o pegou. Quando ele segurou sua linha sentiu algo estranho, e escutou:
— Que bom que te encontrei Gabriel!... Que bom... — disse Fênix.
Gabriel ficou assustado e perguntou:
— Você pode falar também!
— É, eu sempre pude falar, mas só não sabia que podia me comunicar com você. Isso é um milagre.
— Vou te curar, Fênix, não se preocupe agora — disse todo feliz.

Gabriel levou Fênix para a garagem e lá começou uma cuidadosa operação. O menino tirou a folha vermelha e substituiu por uma nova. Fez uma rabiola grande. Quando o dia amanheceu por inteiro, Fênix se sentia uma pipa mais linda e saudável!
            Gabriel e Fênix perceberam que quando houvesse contato corporal entre os dois na mesma linha, eles podiam ouvir e falar um com o outro.
            Fênix contou toda sua história para Gabriel enquanto esteve lá no céu, e relatou sobre a neta do fazendeiro e que agora todas as crianças da fazenda estavam proibidas de soltar pipas.
— Mas isso não é justo, Fênix! — protestou seu amigo, revoltado com a decisão do velho fazendeiro.
— Não é mesmo! Por isso temos que lutar contra o uso de cerol nas pipas!
— Pode ter certeza que vamos manifestar nossa guerra contra o cerol! Isso tem que parar.
            Como não havia aula naquele dia, Gabriel levou Fênix para um campo aberto, longe de qualquer rede elétrica e o soltou. Fênix e ele estavam mais uma vez se divertindo!
            Fênix notou que uma pipa vinha sendo carregada pelo vento e que esta pedia por socorro!
— Gabriel! — gritou ele lá de cima, e sua voz chegou através da linha pura sem cerol. — Tem uma pipa pedindo socorro. Solte mais linha para que eu possa pegá-la.
            E com a boa agilidade de Gabriel eles conseguiram aparar a pipa e ele trouxe Fênix com a outra pipa para terra.
— Muito obrigada por me salvar! — falou a pipa rosa para Fênix.
Mas aí lá pro fundo do campo veio uma menina correndo e gritando para eles.
— É minha amiga, Amanda! — avisou a pipa rosa alegre em vê-la.
A menina que se aproximou era do tamanho de Gabriel. Estava cansada de tanto correr, e o menino percebeu que ela tinha chorado alguns minutos antes.
— Você poderia devolver minha pipa? — pediu ela gentilmente. — Um menino estúpido cortou a gente e nós não usamos cerol, sabe...
— Ah, tudo bem... — dizia ele. — Mas você solta pipa? — estranhou ele.
— Solto sim, algum problema por eu ser menina? — ela o encarou.
            Gabriel sorriu:
— De jeito nenhum. A pipa é um meio de diversão, e para se divertir pode ser qualquer pessoa, menino e menina, criança e até vovô se quiser.
            A garota ficou mais relaxada.
— Nossa você é o único menino que me entende, sabia? Meus pais não gostam que eu solte a Princesa, que é o nome da minha pipa, e diz que tenho que ser como as outras meninas normais. Brincar de boneca, e só isso! Não tenho amigos, porque, nenhum quer uma menina que solte pipa... e as bobocas das meninas acham que sou uma louca!
            Gabriel sentiu pena da menina.
— Olhe, se você quiser pode soltar pipa comigo... se você quiser, é claro! — ele sentiu um pouco de vergonha ao dizer isso, pois tinha medo que ela brigasse.
— Você está falando sério? Eu posso ser sua amiga, então? — ela perguntou toda animada, mal querendo acreditar.
— Você não tem amigos? — perguntou ele assustado.
A garota ficou um pouco tímida ao contar:
— Bem... amigo assim pra soltar pipa junto não... e as outras meninas acham que sou diferente delas.
— Isso é preconceito! — protestou Gabriel.
— Eu também acho.
Gabriel tirou a pipa da menina e entregou pra ela:
— Tome. E se quiser soltar pipa comigo fique a vontade.

Eles se tornaram amigos desde aquele momento. Eles soltaram pipa uma boa parte do dia. Amanda revelou que podia conversar com sua pipa, e Gabriel disse o mesmo. Gabriel contou pra ela que estava pensando fazer um movimento contra o uso de cerol nas pipas, e ela adorou a ideia.
— Vamos alertar as crianças e a todos sobre o risco de quem usam cerol! — falou Amanda empolgada.



Na volta para a casa eles passaram perto de um menino que soltava pipa.
            — Então você conseguiu recuperar a sua pipinha? — zombou o menino de Amanda.
Gabriel caminhou para perto do garoto. O menino era forte e todos os garotos tinham medo dele.
            — O que foi Gabriel? Ficou dodói por causa da namoradinha, é? — riu dele.
            — Eu já podia imaginar que estivesse por trás disso, Joel — disse Gabriel.
            — Então vocês são amigos? — perguntou surpresa Amanda.
Joel fez uma careta de desprezo e respondeu:
            — Fala sério, eu amigo desse marica? Eu não tenho amigo fracassado e muito menos com quem solta pipa com meninas!
            A pipa de Joel era a mesma pipa que havia cortado Fênix e Princesa. A pipa se chamava Trovão e era preta. Quando viu Fênix lá embaixo, gritou:
            — Hei, vermelhinha, pensei que estivesse virado ninho de urubu! Aconselho não voar mais por essas bandas, se não vai acontecer coisas mais perigosas, amigo. — e ele gargalhou.
            Fênix teve uma imensa vontade de subir até lá e lhe mostrar a verdade tão cega diante do seu orgulho. “Até quando outras pipas e vítimas do cerol ficariam livres?” — pensou ele.
            — Gabriel... — chamava Fênix e o garoto o atendeu. — Quero que você me erga até lá em cima.
            O menino ficou espantado com o pedido do amigo, e tentou aconselhá-lo:
            — Mas... Fênix! Ele tem cerol e você pode ser cortado de novo... — dizia preocupado. Joel estranhou aquela atitude e zombou do ex-amigo:
            — Nossa Gabi, você está mesmo maluco, hein? Agora está dando pra conversar com a sua pipa?
            Fênix argumentou que aquilo tinha que parar, e que precisava fazer eles perceberem o uso perigoso do cortante, e Gabriel então aceitou.
            Pediu que Amanda levasse Fênix para ganhar espaço, e a menina um pouco nervosa dessa decisão obedeceu.
            — O que pensa que está fazendo, seu idiota? Vai me enfrentar com essa sacola vermelha sem cerol? — rosnou o garoto de ironia.
            Gabriel puxou a linha e Fênix estava ganhando altitude e estava novamente no céu.
            — Essa luta não é minha e nem sua. Nem mesmos das nossas pipas. Essa luta irá por um ponto final em questão ao uso desse cerol que mata a esperança de muitos.
            Joel apenas riu e se distanciou do colega.
Lá em cima, as pipas estavam se encarando.
            — Seu dono é mesmo um burro, companheiro. Aonde se viu me desafiar com essa linhazinha podre? — zombou dele Trovão.
            — Ele me ama de um sentimento verdadeiro. É diferente daquilo que você e seu dono sentem. Eu não preciso por em mim cerol para que o meu amigo tenha de mim orgulho – respondeu Fênix.
            Lá em baixo a guerra tinha começado, e as pipas controladas por seus donos duelavam num combate final.
            Fênix se esforçava o máximo e escapava dos ataques ferozes do seu oponente.
            — O que houve vermelhinho? Não vai me atacar? — perguntava Trovão, observando que ele só fugia.
            — Eu não preciso te atacar, companheiro, por que você mesmo irá experimentar do seu próprio veneno!
            Trovão mergulhou em sua direção e sua linha cortou metade de sua rabiola, e Fênix começou a rodar. Mas manteve-se firme e não caiu.
            — Cuidado! — gritou a Princesa lá de baixo, torcendo para que a luta terminasse bem.
            Joel comemorava mais uma possível vitória, e disse:
            — Agora eu vou fazer em pedaços a sua pipa fracassada! — e investiu Trovão contra Fênix, mas Fênix também foi ao seu encontro. Eles iriam bater um no outro...
            — O que pensa que está fazendo Fênix?! — gritou Gabriel sentindo que não era mais ele que controlava aquela luta. Nem Fênix sabia o que estava acontecendo, mas achou que o próprio destino estava controlando-no.

As pipas se chocaram e ficaram presos uns ao outro. Lutavam para se livrarem enquanto caiam sem controle para baixo.
            Gabriel e Joel tentavam puxar suas pipas, mas não conseguiam. Fênix viu uma enorme árvore abaixo, e de repente conseguiu desgrudar de Trovão a tempo, e subiu vitorioso pro alto.
            — NÃOOOO! — gritou Trovão e caiu na árvore.
Joel ficou furioso.
            — Porcaria de pipa! — e com raiva puxava a linha, obrigando Trovão se soltar dos galhos que o prendiam.
            Fênix viu que Trovão gritava de dor a cada puxão de sua linha e avisou Gabriel.
            — Pede a ele para parar se não vai destruí-lo!
Gabriel tentou convencer Joel a subir na árvore se não ele ia acabar destruindo sua pipa.
            — Não me importa! — gritou o menino. — Se quebrar eu faço uma outra pipa. O cerol é o mais importante, e pipa é toda igual.
            Trovão ficou paralisado de terror. Finalmente tinha escutado a voz do seu criador transmitida em sua linha impura.
            — Então... eu não sirvo pra nada, se eu não tiver o cerol... — e a verdade dessa revelação causou um impacto profundo, já que foi pelo seu próprio dono dito.
            Joel puxou com toda a sua força, e a sua pipa foi se quebrando toda. Trovão chorava de remorso e de dor, enquanto suas folhas e varetas se destruíam. Por fim, quebrou a vareta do meio, e morreu ali, sem amor. Mas Joel queria quebrar a linha, para recuperar boa parte dela que tinha cerol, e com toda a força que usou e sem cuidado necessário provou da própria força do seu cerol. O menino teve o dedo indicador da mão direita cortado fora, e ele gritou desesperado de dor.
            Joel se retorcia no chão, e muito sangue perdia do corte fatal em seu dedo.
Gabriel ficou paralisado sem saber o que fazer, mas foi Amanda que o socorreu.
A menina tirara a fita de laço do seu cabelo e estancou o sangue em seu dedo e depois pediu que Gabriel procurasse por socorro.
            — Sim, eu vou! — e saiu correndo pelo campo verde e Fênix atrás. Por sorte encontrou um senhor que estava com uma caminhonete cortando capim. O menino contou em rápidas palavras o que tinha acontecido e o homem entrou no seu carro e foi até onde estavam os garotos. Encontrou Joel e levou o menino às pressas ao hospital.
            Gabriel recolheu Fênix e partiram pra casa junto com suas novas amigas.
            — Viu Princesa, a recompensa de quem usa cerol? — comentou ele triste.

No dia seguinte Gabriel e Amanda combinaram ir até o hospital para ver como Joel estava. Chegaram na hora da visita e Joel estava com a mãe. Sua mão estava enfaixada e ele tomava soro.
            — Foram vocês que ajudaram meu filho, não foram? — e ela muito emocionada abraçou o casal de garotos com gratidão, e depois saiu do quarto para que os meninos conversassem.
            Joel estava com vergonha de ver ali os meninos que o socorreram.
            — Como está se sentindo, Joel? — começou Gabriel se chegando mais perto do leito dele.
            — Com um dedo a menos... — e riu, depois gemeu de dor. — Eu não posso rir, dói muito ainda.
            Amanda se chegou mais próximo também, e trouxe para ele uma caixa de deliciosos bombons de chocolate.
            — Eu mesmo fiz, sabe, minha mãe é doceira... — explicou ela.
Joel pegou a mão dela com a sua outra mão livre.
            — Graças a você eu não precisei tomar sangue... E eu não fui bom com você, e mesmo assim você me ajudou... — e ele começou a chorar.
            Amanda acariciou seu rosto, secou suas lágrimas, e sorriu:
            — Os amigos servem pra isso, não é?
Gabriel teve que esforçar muito para também não chorar.
            Quatro dias depois Joel teve alta, e resolveu se ajuntar com seus amigos numa campanha de conscientização do não uso do cerol nas pipas.
            — Podemos elaborar um panfleto e orientar as pessoas de todos os perigos que o cerol pode causar. — opinou Amanda.
            — É uma ótima ideia, mas precisaríamos levantar muito dinheiro para pagar por...
            — Espere! Meu tio tem uma gráfica, e posso conseguir com ele os panfletos! — lembrou Joel.
Os meninos foram até a gráfica do tio de Joel e fizeram um acordo. Os meninos elaboram um esboço e entregaram ao tio de Joel que rapidamente começou a trabalha no projeto. Dois dias depois os meninos estavam empolgados e distribuíram os panfletos as pessoas do bairro e da cidade, orientando as crianças, e jovens e os adultos sobre o sério risco da linha com cerol.
            A repercussão dessa ideia gerou críticas positivas, e os meninos foram convidados para orientar a turma da escola, a pedido da diretora que chamou a imprensa local para que divulgasse o projeto deles.
            Amanda criou o nome da equipe, e se chamaram a “Turma da pipa sem cerol”.
Na escola as crianças menores se encantaram com a pipa de Gabriel, e Fênix adorou a agitação a sua volta. A pipa de Amanda até tirou fotos com algumas meninas.
            Mas Joel roubou a atenção de toda a turma quando relatou sua versão sobre o uso de cerol, e como perdeu o seu dedo indicador. O menino fez uma encenação exagerada dos fatos que aconteceu, e a turma se assustou quando Joel tirou a faixa enrolada na sua mão e mostrou o resultado.
            No final da apresentação Amanda beliscou Joel no braço.
            — Ai! Por que fez isso? Deveria estar na fila para receber um autografo meu — brincou.
            — Você exagerou nas cenas, não foi daquele jeito que aconteceu, Joel — repreendeu ela, parecendo lhe sua mãe.
            — Calma Amanda, isso vai ajudá-los a não praticar diretamente com o uso de cerol nas pipas. Agora eles vão pensar mil vezes antes de usá-lo, entendeu?

A repórter entrevistou a turma e pediu que Joel finalizasse a entrevista. Amanda se preocupou, pois sabia que o amigo ia aprontar.
            — É isso aí, pessoal, não usem cerol nas linhas, isso é muito perigoso. Antes eu não sabia disso, se não eu não ia perder um dedo. Mas eu tive sorte, poderia ter sido pior — e fez um gesto violento com a mão em seu pescoço que a repórter até se assustou.

            Quando a matéria da entrevista foi pro ar, a turma havia se tornado uma celebridade local. Até Fênix e Princesa se tornaram símbolos representativos contra o não uso do cerol.
            O resultado disso foi ainda mais longe do que eles esperavam. E Gabriel e Amanda foram acordados por uma fila de crianças em sua casa querendo fazer parte da “Turma da pipa sem cerol”. E o número de meninas que queriam soltar pipas fez Amanda achar que ainda estava em sua cama, sonhando com aquela possibilidade.
            Gabriel e seus amigos aceitaram que todos eles fizessem parte da equipe. Agora eles teriam que procurar um lugar para se reunirem, e a diretora da escola ofereceu o pátio da escola aos finais de semana, e um professor concordou acompanhá-los nas reuniões.
            Joel conseguiu convencer alguns de seus amigos que ensinassem as meninas a fazer pipas e que as ensinassem a também soltar. Amanda adorou, e até ajudou também. A escola virou uma oficina de criação própria de pipas. A repórter voltou aparecer para fazer uma nova matéria das crianças.
            — Nossa, Amanda, eu não sabia que iríamos conseguir tudo isso em tão pouco tempo — confessou Gabriel orgulhoso.
            — É, eu também não. E devemos muito isso pela ousadia de Joel!
Fênix comentou:
            — Eu sabia que conseguiríamos. Eu sabia... — e lembrou do quarto dos brinquedos.
O prefeito da cidade vinha acompanhando o trabalho da turma da pipa sem cerol e resolveu ajudar. Fornecera todos os materiais para a criação das pipas, e forneceu lanches para todos.
Gabriel se reuniu com todos e juntos concordaram que a cidade teria que ter um festival de pipas. A ideia contagiou a todos e logo a notícia foi alcançada por toda a cidade e região.
Novamente o prefeito prestou sua ajuda e conversando com seus coordenadores resolveram emprestar uma área grande para realizarem essa grande festa.
Os amigos elaboraram algumas atrações que teriam nesse festival, como entregas de prêmios para participantes que apresentassem a maior pipa feita, como também a menor e que ambas voassem. Joel prometeu fazer a menor pipa do festival.
A prefeitura prometeu doar lanches e refrigerantes, além de brinquedos e camisetas inspiradas nas pipas de Gabriel e Amanda.
Todos marcaram o dia em que se comemoraria o dia do festival de pipa na cidade. E foi para o dia 23 de Agosto. Faltavam apenas alguns dias para a festa se realizar, mas os três amigos mal podiam aguentar de tão ansiosos que estavam.
Os preparativos estavam na reta final e mais parecia como uma chegada de circo, pois todos paravam para observar.
Os dias foram chegando, e finalmente chegou.
A festa teve início às nove da manhã, e as crianças chegavam com suas belas pipas, até um garoto chinês veio demonstrar sua pipa em formato de dragão chinês.
            Houve tantas gentes que parecia que o território não ia caber, mas coube. Amanda estava linda, assim com Joel e Gabriel. Foram eles que abriram o início do festival. Houve palhaços, carrosséis, balão pula-pula, gincanas com premiações, teatro com bonecos orientando as crianças e jovens não usarem cerol... Tinha música, concurso de desenho, pintura de rosto, e muito mais. A alegria estava toda ali, e a atração principal estava para acontecer. Todas as crianças estavam se preparando para o erguerem suas pipas, todos juntos, como num grande desfile ao céu aberto.
            Joel e Amanda não quiseram participar, e a pipa Princesa estava sendo fotografada com as crianças. Fênix estava orgulhoso. Viu o resultado que tinha conseguido com ajuda de seus amigos.
            “Que lindo! Como eu queria que Dragon estivesse aqui agora... Mas espero que ele tenha encontrado um lugar bom para descansar...” – pensava Fênix, com muita saudade do ex-companheiro.

            O prefeito anunciou a contagem regressiva para que os competidores preparassem as suas pipas. Tinha muitas meninas na fila. Gabriel tinha se posicionado no meio da fila e Amanda se distanciou com Fênix para que ele ganhasse espaço.
            O prefeito levantou a pistola de brinquedo para anunciar a contagem:
Dez, nove, oito, sete, seis, cinco, quatro, três, dois e UM! – disparou o tiro artificial, dando a largada. E as pipas se ergueram com a ajuda do vento, sob aplausos de todos.
            A pipa em forma de dragão encantou quando deixou confetes brilhantes de muitas cores caírem nas pessoas lá em baixo.
            Fênix voava acima de todas as outras pipas. E se sentia muito feliz. Ele voava mais e mais alto, e não estava se preocupando com isso. Lá embaixo, Gabriel não sabia explicar como sua pipa estava ganhando altitude sem que ele descarregasse mais linha. E Joel aconselhou ele puxar a linha de Fênix.
            — Não consigo! Não sei o que está havendo — respondeu ele surpreso, somente para seus dois amigos que estavam com ele.
            Fênix percebeu que uma nuvem se abriu e um facho de luz caiu sobre ele. Era uma luz dourada e confortante e por isso não ficou com medo daquele fenômeno. E ele sentiu sendo levado pra cima e ultrapassou uma camada de nuvem.
            — Nossa... que lugar é esse? É tão lindo e cheio de paz! — disse Fênix surpreso por ter chegado num lugar diferente e não ver mais a terra e as outras pipas competidoras, mas de repente uma montanha de nuvem se distanciou, e revelou um lugar espetacular, mas parecendo um cenário mágico de algum filme. Ali havia um campo verde com um lago bem cristalizado. Algumas árvores repletas de frutas, e no céu, isso é, no céu dentro desse novo lugar havia pipas voando junto com crianças e adultos. Elas estavam rindo e Fênix notou a presença da alegria incomparável naquele ambiente. Não havia sol, mas tudo era claro. Havia vento, mas ele sentia que podia ficar onde queria sem o vento obrigá-lo a sair por aí voando sem sua vontade.
            — Aqui é um paraíso! — gritou fênix radiante.
            — Ou melhor, é o país das pipas livres, meu companheiro — disse uma voz atrás dele. Fênix virou e deparou com Dragon, num visual lindo, sem aquelas feridas e sem linha alguma! E ao seu lado uma linda menina sorridente, voava livremente.
           — Dragon! É você? — Fênix mal acreditava no que via.
            — Sou eu, e melhor do que antes — sorria, e seu brilho era de encher os olhos de emoção de qualquer um.
           — Então existe mesmo, não é? — Fênix estava encantado.
            — Sempre existiu, e isso é maravilhoso. Veja, quero que conheça uma amiga. Essa é Sabrina e ela quer que você faça um favor pra ela.
            Fênix ficou surpreso.
            — E como posso ser útil?
A menina lhe sorriu:
            — Eu quero que você faça uma viagem pra mim. Quero que retorne a fazenda do meu avô e lhe entregue uma carta que vou escrever.
            — Você é a neta do fazendeiro?! — ficou admirado com a revelação.
           — Sim sou eu mesma. Eu vi vocês dois quando tinham caído na fazenda de meu avô.
            Fênix ficou um pouco preocupado.
            — Seu avô não gosta da gente... Você mesma deve ter visto o que ele fez com Dragon, não é?
            — Não se preocupe você não estará sozinho, tenho certeza que você irá ficar bem. Por favor, faça essa viagem pra mim, pois nem eu e Dragon podemos fazê-la... É uma missão muito importante.
            — Está bem, eu farei — aceitou ele, se enchendo de coragem.
A menina fez uma mágica e apareceu um papel e uma caneta. Ela escreveu nela e depois com carinho prendeu a carta na rabiola de Fênix.
            — Você está pronto? — perguntou ela. Fênix olhou pro amigo.
            — Espero que um dia voltemos a nós encontrar.
Ele sorriu.
            — A gente irá amigo, muito em breve.
E a menina abriu um portal e Fênix mergulhou dentro dele. A pipa vermelha começou a mergulhar num túnel de luz, como se estivesse numa montanha russa. E a luz cegou seus olhos por um instante e quando Fênix se recuperou, se viu flutuando suavemente e pousar na relva bem aparada, de frente com a porta da casa do fazendeiro.
            — Estou aqui, pronto para o que der e vier...
A porta da casa se abriu e o velho saiu mancando. Pegou a enxada encostada na parede e veio andando onde Fênix estava. O velho parou, porque viu ali, a cinco metros de sua frente aquela pipa vermelha que desaparecera do quarto dos brinquedos de sua neta.
            — Você voltou! — rosnou ele, crescendo sua fúria, e relembrando no dia em que sua neta morrera. O fazendeiro ergueu o cabo da ferramenta e começou a correr para acabar com aquela pipa.
            Fênix não sentiu medo, por incrível que parecia e um vento surgiu ali, de repente, e fez a carta se soltar de sua rabiola e rolar até aos pés daquele senhor.
            Ele olhou pro chão e deixou a ferramenta cair de lado e abaixou pra pegar a carta. Suas mãos tremiam quando ele começou a ler o que nela havia escrito. Ele chorou quando reconheceu as letras que ensinara há muito tempo para sua neta.

Querido, vovô João. Sua santa benção carrego em meu coração.
Eu estou feliz e vivo num lugar lindo agora, e estou com meus pais, que nunca tinha conhecido antes! Onde eu estou não tem dor, nem lágrimas, e tem muitas crianças e adultos que vivem felizes e podem voar, juntos com as pipas. Aqui é lindo e também infinito, e eu não tenho motivo pra ficar triste, pois ainda tenho muito que conhecer desse maravilhoso lugar que é um encanto. Sabe, vovô, eu estou mais feliz aqui do que naquele dia em que o senhor me deu uma égua de aniversário, o senhor se lembra? Ah, meu avô, eu sinto sim muita saudade de você, mas eu me conforto com a esperança de que em muito em breve possamos nos reencontrar. Você irá adorar aqui, e poderá ver o seu filho também! Então vovô, gostaria que o senhor terminasse seus dias aí na terra em paz com seu coração, e viva feliz. Por favor, vovô, não deixe que as crianças da sua fazenda passe mais um dia sem o aconchego dos brinquedos que estão envelhecendo no meu antigo quarto. Sei que o senhor proibiu que as crianças soltassem pipas na sua fazenda por aquilo que aconteceu comigo, mas isso não é justo. O senhor pode fazer como essa pipa e seus amigos aí fazem, que é orientar para que as crianças não usem cerol em suas pipas. Então vovô, eu espero que o senhor tenha muita felicidade, pois ainda terá muito que viver e ajudar aqueles que vão lhe precisar de sua ajuda. Ah, aquela pipa amarela que o senhor mandou pra cá lhe manda abraços sem ressentimento, viu? O senhor me mandou um presente que é essa pipa linda que, aqui vive em total liberdade comigo.
Quero terminar por aqui e recomeçar quando a gente se encontrar. Mando-lhe eternos beijos e abraços todos os dias de sua vida. Adeus, querido vovô João...

Dê sua neta Sabrina Alves


            O fazendeiro enxugou as lágrimas do seu rosto e olhou para o céu e sorriu. Tinha certeza de que sua neta estava vendo-no. O senhor dobrou a carta e guardou no bolso de sua camisa. Chegou próximo de Fênix.
            — Sei que pode me entender, e por isso peço desculpa por tentar destruí-lo — e ergueu Fênix com todo o cuidado.
            Uma nova correnteza de ar soprou e carregou Fênix pro alto, enquanto o velho lá embaixo lhe despedia. Fênix sentiu subir mais e mais, ainda estava ligada a linha entre ele e seu dono, mas não compreendia como a linha não tinha quebrado, de tão longe que estava do festival e do Gabriel. Mas o importante já tinha acontecido:
            — Missão cumprida! — gritou ele, feliz.

Fênix reapareceu no céu conhecido, e estava vendo as outras pipas competidoras brincarem no ar com seus donos lá em baixo.
            “O que aconteceu?... Será que tudo não passou de um sonho?”.
E Fênix sentiu seu dono o puxando para o solo. E foi descendo e descendo.
            Quando Gabriel o alcançou, percebeu que seu amigo e os outros dois ao seu lado estavam surpresos, como se tivesse visto um Papai Noel de verdade.
            — O que foi que aconteceu com vocês? — indagou Fênix e Gabriel que segurava sua linha respondeu sem acreditar no que tinha visto.
            — Fênix que lugar era aquele que você estava?
Fênix ficou maravilhado.
            — Então vocês viram também? Não foi um sonho, então!
Quem mais estava assustado com tudo aquilo era Joel, pois não acreditava que tinha essa possibilidade de conversar com sua pipa através da linha. E ficou sem o que falar.
            Amanda lhe fez um carinho.
            — Você foi muito corajoso, Fênix, meus parabéns — e lhe deu um beijo. Fênix ficou todo vermelho. Isso é, ficou ainda mais vermelho do que era.
            — Não sei como aconteceu, Fênix... Mas quando nós relamos na sua linha foi à mesma coisa de nós estarmos junto com você o tempo todo... — explicava Gabriel, sem compreender muito como tinha acontecido aquele milagre.
            Joel tentou arriscar, e segurou a linha de sua pipa que era do tamanho de seu indicador, que não por acaso tinha dado o nome a ela de Indicador também.
            — Não estou conseguindo escutá-la — dizia Joel se esforçando. — Será que eu não tenho esse dom como vocês? Ou será que a pipa é muito pequena?
            Gabriel e Amanda se entre olharam e não sabiam o que responder.
Mas Amanda vendo a tristeza de Joel tentou ajudá-lo.
            — Tente concentrar nela, somente nela, Joel... — e o menino deixou a mente fixa na sua pipa pequenina, de cor roxa. Joel estava a ponto de desistir, quando de repente escutou um chorinho.
            — Nossa! Ele está chorando!... — gritou Joel super feliz. Amanda e Gabriel seguraram a linha também, e juntos ouviram a pipinha soltar o berro.
            — Mas é... Mas é uma pipa bebê, Joel! Você teve uma pipa bebê! — disse Amanda surpresa ao descobrir.
            Joel quase desmaiou de susto. Gabriel ficou admirado, não sabia que podiam existir pipas bebês. Fênix disse que só não tinha sido uma pipa bebê porque Gabriel a fizera daquele tamanho mesmo.
            A Princesa disse pra Amanda que Joel teria que cuidar bem dele, pois ele ia crescer e ficar do tamanho normal, que era do seu tamanho.
            — Meus parabéns, papai. — brincou Amanda.
            — Não achei graça nenhuma! — respondeu ele, mas seus amigos estavam rindo. Joel teve uma solução — Então, tá. Se eu vou ser o pai, você será a mãe, Amanda.
            — Não exagera Joel! Eu não serei a mãe de sua pipa, nem vem com essa!
Joel e Gabriel riram e Amanda aceitou a brincadeira.
            
            O resto do festival ocorreu todo animado, e no concurso da menor pipa Joel deixou uma criança menor ganhar o prêmio. Amanda achou sua atitude muito generosa e deu um beijo em seu rosto. Nem precisa falar que Joel ficou vermelhinho, não é?
            Fênix e Princesa se divertiram juntos naquele dia gostoso. E nossos amigos saíram todos juntos, sob o mesmo céu, rindo felizes.

Bem essa história termina assim. Agora você e seus amigos iram continuar uma história real com suas pipas. Se divirtam bastante, mas com cerol nem pensar!


Fim




Biografia:
Sou escritor tenho 30 anos, moro em Nova Odessa, mas nascido de Americana-sp. Sou presidente e fundador da SENO (Sociedade dos Escritores de Nova Odessa) que é uma entidade sem fins lucrativos, organizando feiras literárias na cidade, como também premiações de concursos literários. Tenho um livro publicado em parceria com o Rotary Clube de Nova Odessa, em conscientização contra o uso do cerol nas pipas, chamado A Viagem da Pipa Fênix, que teve 800 cópias distribuídas gratuitamente em algumas escolas municipais e bibliotecas. Sou escritor no site canadense Wattpad uns dos mais frequentado do mundo, e meus livros já tem 2 milhões de leituras e milhares de seguidores, me tornando um dos mais acessados do Brasil. Ganhei destaque no site do Wattpad em 2015 ao ficar entre os 200 autores de mais sucesso do site, entre essa lista alguns consagrados escritores nacionais e internacionais, como Paulo Coelho, Dan Brown (O código da Vinci) e Meg Cabot, autora juvenil americana com milhões de leitores pelo mundo. Publicar em sites onlines tem sido uma ferramenta de grande ajuda para o auto reconhecimento, e nesse site, Escrita - BVE tenho mais de 60 mil leituras de três capítulos do meu livro juvenil. É uma honra em fazer parte desse grupo de amigos escritores e desejo a todos um 2016 próspero e de grande sucesso.
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